Já faz um tempo percebi como várias pequenas coisas, aparentemente inócuas, ficam marcadas com tinta indelével em nossa memória. Para mim, as coisas da infância, principalmente: a época em que eu ouvia uma meia dúzia de discos dezenas e dezenas de vezes ao longo do ano, gostava de uma mesma quantidade de filmes que também se repetia incessantemente no meu videocassete e lia os mesmos livros muitas e muitas vezes, bem mais que agora, que lamentavelmente estou numa perene lentidão para desbravar novos territórios. Enfim, não foram poucos os momentos em que me peguei no banho cantando nota por nota a música do jogo do Toy story para o Super Nintendo, composta pelo célebre senhor XXX; que percebi ao reler os livros de Lobato que muitas palavras que já estão enraizadas há incontáveis séculos em minha cabeça, como "asneira" e "embolorado", eu retirei de suas incríveis páginas, que já degustava com prazer na meninice; que sabia nos meus filmes queridos (como Abracadabra, As aventuras de Huck Finn e os desenhos da Disney — que, como já deu para perceber, me influenciaram e me influenciam muito) quando tal ou tal personagem entraria em cena, sua mão mexer-se-ia ou a fala seria mal dublada; que nos meus gibis favoritos eu sabia by heart sempre os momentos que mais me agradavam, pois sempre estava voltando às páginas favoritas. É absurdo, talvez, mas descobri que aquilo que para a maior parte das pessoas não tem importância, para outras gentes pode ser algo que redefiniu sua vida de uma maneira imensurável.
Dia desses eu novamente me choquei com essa idéia ao mesmo tempo fascinante e aterradora, quando percebi que nunca me saiu da lembrança a seguinte música do seriado da pequena sereia:
Não sei quem diabos compôs isso, escreveu a letra e quem fez a versão para o português. Olhando agora, até acho uma canção bem fraquinha. Mas isso não importa, porque ela ficou para sempre em meu pensamento, e sempre que ouço a palavra "harmonia" ou alguém falando "você é você" ou "eu sou eu" instintiva e instantaneamente eu recordo dessa melodia, cantarolo. Acho isso inacreditável.
Quem sabe alguém não descobre este blogue por puro acaso e uma das minhas frases, pela maneira, estilo ou contexto em que foi escrita, permaneça para sempre junto ao desconhecido leitor? Que usará os mesmos termos, inconscientemente, a mesma construção, nunca conseguirá escapar.
Da minha parte, sei que com certeza devo mais à pequena sereia que a Villa-Lobos. Nunca o cantarolei no banho, muito menos após mais de dez anos sem ouvi-lo.
Gostei do seu blog, Filipe, parece muito sincero. Também tenho muito disso que você descreve em "Simbiose" e sempre me pergunto se isso ocorre com todos ou se apenas algumas pessoas acabam eternizando momentos aparentemente triviais e efêmeros.
ResponderExcluirAbraço!
S. Limpet
Acho que todo mundo tem disso, mas não percebe!
ResponderExcluirA Pequena Sereia é o filme da minha infância.
ResponderExcluirEu também adoro. Arrepio até hoje.
ResponderExcluirAcontece muito isso comigo também. Inclusive com os filmes da Disney que eu era viciada.
ResponderExcluir