Até o meio da minha adolescência era muito raro ver um celular. Nas ruas, o máximo que se via era o outrora famoso "bip", principalmente utilizado por executivos. Aí hoje vivemos uma era em que as pessoas compram vários celulares, trocam de modelo a todo instante, presenteiam os amigos e parentes, enfim, uma explosão de telefonia móvel. Isso é desolador.
Não sei por que as pessoas fazem questão de serem a todo instante encontradas. Por que querem sempre falar com alguém, por qualquer coisa, a qualquer momento. Não dá mais para ir ao metrô sem encontrar alguém berrando num aparelho perto de você — e, pior, de uns tempos para cá começou uma maldita mania com rádios estilo "walkie-talkie" —, nem é possível ver alguma rua movimentada sem pelo menos uma pessoa se servindo disso para falar alguma besteira qualquer. No meu cursinho, quando acaba a aula eu tenho de descer nove andares de escada, e é difícil precisar algum dia em que atrás de mim havia alguém silencioso desbravando os degraus. As pessoas têm uma necessidade absurda dessa máquina.
Alguns anos atrás, ninguém se desesperava por ficar algumas horas sem contato com outras pessoas. Nem se perdia nas lojas se não tivesse esse telefone. A impressão que eu tenho é que um dispositivo como o celular, que é vendido como símbolo da liberdade e mobilidade, é o extremo oposto disso: ele funciona como aquelas pulseiras que colocam em animais ameaçados de extinção — assim dá para sempre saber onde eles vão, onde estão, o que fazem.
Não sei que necessidade imperiosa as pessoas possuem de conversar tanto com esses telefones, no meio da rua, perdendo reflexos, ignorando os outros pedestres, discutindo em voz alta assuntos particulares. Acho que o imediatismo do contato é algo que só serve em situações específicas, no mais das vezes é apenas uma prisão a que voluntariamente todos se submetem.
Eu prefiro usar meu celular para ouvir música mesmo.
Esses dias mesmo estava pensando nisso! Eu perco uma grande parte da minha liberdade por ter que usar um celular. Com isso, sou praticamente obrigada a dizer onde estou. Tenho inveja quando assisto filmes de décadas passadas e vejo como era fácil para as mocinhas manterem segredos, marcar encontros... Era mais charmoso. :)
ResponderExcluirMais três textos e o blog completa 100 posts.
ResponderExcluirCaramba, 100 posts? E não teve um único que prestasse, deve ser um recorde!
ResponderExcluirSuelen, nem me diga. O telefone era algo de casa, e as pessoas eram mais livres por não dependerem tanto dele... Eu NÃO QUERO ser achado em qualquer lugar, simplesmente isso!
E falando em filmes, vi um filme do Spielberg esta semana (Encurralado, o melhor dele) e lá o sujeito ficava acuado num deserto, perseguido, e tentava ligar, de uma cabine telefônica, pedindo ajuda. A cena é muito tensa e só vendo para saber o que aconteceu, mas se ele tivesse um celular no bolso o filme já acabava ali e tudo seria extremamente sem graça! A modernidade às vezes torna as coisas chatas, né?
É o VAZIO do século XXI. As pessoas tentam lutar contra esse vazio se comunicando umas com as outras a todo instante. É um grito de desespero por afeição numa época em que todos estão com pressa, sempre passando uns emcima dos outros.
ResponderExcluirDuck Rogers, boa lembrança. Aliás, estou vendo Darkwing Duck direto esta semana, haha.
ResponderExcluirE sim, o século XXI é um século cada vez mais fechado, introvertido, solitário, deprimente e depressivo. Deveria ser o contrário, já que as populações não param de crescer. Mas parece que, quanto mais gente, tanto menos pessoas... E o individualismo saudável também cedeu espaço para a incorporação de valores sociais, a um ponto tal que hoje todos querem ser parte de tudo, e ninguém é ninguém.
(Ah, eu sei que o Duck Rogers é o Patolino satirizando Buck Rogers, e Darkwing Duck é da Disney, mas os dois são patos e têm "Duck" no nome, rs.)
ResponderExcluirAliás,
ResponderExcluir"It is my firm belief, and I say this as a dictum, that all these tools now at our disposal, these things part of of this explosive evolution of means of communication, mean we are now heading for an era of solitude. Along with this rapid growth of forms of communication at our disposal - be it fax, phone, email, Internet or whatever - human solitude will increase in direct proportion."
- Herzog
Nossa, esta semana eu estou pensando igual a cientistas, artistas geniais...
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