segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Uma descoberta e uma constatação (em sons)

Descoberta: Ronnie Von fez discos primorosos décadas atrás! Quem vê aquele senhor educado e vaidoso apresentando comportados programas televisivos não imagina que nos anos 60 ele fez coisas revolucionárias e psicodélicas no Brasil, talvez bem mais à frente do seu tempo do que por exemplo a Tropicália, que é da mesma época. Ouçam "A incrível luta do reino de Parassempre contra o império de Nuncamais" e descubram essa pérola ainda obscura do pop rock nacional. Espero que relancem os álbuns dele em edições de luxo, porque não são de apenas guardar MP3 ou disputar LPs a preços exorbitantes com colecionadores gananciosos.

Constatação: brasileiros não entendem música sem letra. Para eles a letra é tudo, ou a principal parte de uma canção, e a música instrumental no Brasil sobrevive marginalmente. Quais as músicas de maior sucesso do Queen por aqui? "Somebody to love", "Love of my life", "Crazy little thing called love" etc. Falar de "amor" é lindo, mas claro que o importante para essas pessoas é a letra/título da canção, já que o Queen está bem longe de ter apenas três ou quatro composições primorosas. Será que se "Death on two legs" tivesse "love" no título ela seria uma das mais citadas e tocadas nas rádios? Eu não tenho a menor dúvida. Isso é preguiça, é querer receber "mensagens" de uma obra de arte, é querer sensações imediatas, é desistir de sentir em prol de afirmar. Letras deveriam ser paulatinamente extintas das canções populares, como os diálogos vêm sendo suprimidos nos romances contemporâneos. É a única maneira de fazer as pessoas entenderem que música são sons, harmonia, ritmo, melodia, e não palavras, frases, explicações, poesias.

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