terça-feira, 30 de março de 2010

Compadre Zé Bento

O primeiro post deste blogue foi motivado pelo desejo de compartilhar uma excepcional entrevista com um escritor que admiro muito. Agora de novo me vejo nessa alegria de leitor, nessa sanha de divulgador de coisas nobres e obscuras; depois de Simenon, agora é a vez de Lobato.

Acho que já externei muitas vezes aqui minha admiração por esse gênio das letras — criador daquela que para mim é talvez a maior personagem da literatura brasileira: Emília, a Marquesa de Rabicó —, esse editor de visão, tradutor incansável e pioneiro, inovador da linguagem narrativa infantil, esforçado e sincero (e desiludido, naturalmente) ativista político, autor magnífico, original, brilhante.

Raro registro da voz desse inventor de mundos, a entrevista traz tantas coisas dignas de nota que não me estenderei sobre o humor lobatiano, sua percepção avançada da sociedade e dos conflitos internacionais (vou pregar também: "Bomba atômica para todos! Bomba atômica para todos!"), seu talento para contar todo tipo de histórias. Então aqui está essa entrevista:







P.S.: Dois dias depois, Monteiro Lobato deixaria este vale de lágrimas.

sábado, 27 de março de 2010

Beba-me

Poucas coisas me irritam mais que a cultura "boêmia" universitária.

Gente que ri contando casos de "porres", que diz que "quem não bebe não tem história", que no final de semana tem vontade de arrancar dois ou três órgãos internos para alojar dentro de si a maior quantidade possível de álcool, que diz que a cerveja é seu único amor, que se diverte contando histórias lastimáveis ocorridas em bares, botecos e baladas, que nos álbuns virtuais só possui foto de confraternizações regadas a bebida e com a participação de bêbados desinibidos, metidos a engraçados e expansivos. Gente que adota esse beber como um estilo de vida.

Acho tudo isso pavoroso, terrível, deprimente. Tenho vontade de morrer quando ouço meus colegas de sala comentando piadas envolvendo marcas de cerveja que tomaram, tipos de bebida, amigos seus que vomitaram as tripas na sua frente, que beberam imoderadamente e foram parar no hospital; tem gente que acha isso engraçado (ou talvez estejam tão ébrios que nem sequer se dão conta dos absurdos grotescos que narram).

Não é por nunca ter ingerido um copo de bebida alcoólica na vida que eu digo isso; se o tivesse feito, ainda acharia esse tipo de procedimento o cúmulo da idiotice. Essa cultura de querer se igualar aos outros bebendo, de fazer amigos bebendo e de adorar viver bebendo equivale a uma sutil prostituição, perda de suas idéias e vontades ao aceitar manter e legar essa tradição estúpida de perder freios inibitórios com algo que nem criança de colo hoje em dia acha "transgressor". Uma imbecilidade ímpar que leva a um comportamento repulsivo de indiscrição e boçalidade.

Pelo menos isso serviu para eu concluir quem são os autores das descabidas afirmações de que "a faculdade são os melhores anos da vida": ora essa, quem senão os universitários bêbados mauricinhos que vão com seus caríssimos óculos escuros na aula disfarçar as olheiras da ressaca? Aqueles mesmos que cansam do álcool depois de um tempo e vão para as heavy drugs barbarizar na náite com seus narizes quase descolando depois de tanto pó cheirado. Aqueles mesmos que se dizem marxistas a favor da reforma agrária pela manhã, de tarde, doidões, incendeiam mendigos e à noite vão à porta dos acusados de crimes de repercussão nacional para clamar ante às câmeras de televisão por "JUSTIFFA!!!" e dizerem, compungidos, que esse descaso das autoridades deve acabar.

Para esse pessoal, a faculdade ensinou muita coisa.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Creta

Hoje fui fazer as tais audiências de que falei ontem, e um dos lugares em que eu tinha de ir é um fórum próximo à Praça da Sé. Lá os elevadores são temperamentais e só vão para os andares que querem: tem elevador que só vai em andares pares, elevadores que começam a partir do 13º piso, elevador que só passa por andares designados por números primos, coisas mais ou menos assim. E aí quando você toma os elevadores vai parar nos lugares mais inóspitos: salas amplas onde todos os elevadores são iguais e você não pode saber de onde veio e para onde deve ir; pátios sem outras vias de acesso nos quais você deve se deslocar pelas escadarias, pois o elevador esquece de parar lá; andares em que há portas falsas, entradas que inexistem, elevadores desligados, placas errôneas, números trocados, painéis mentirosos.

Queria ver Teseu ali sem o novelo de Ariadne.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Com que roupa?

Amanhã tenho que fazer umas audiências para a pasta de atividades complementares da minha maldita faculdade. E para isso vou ter que usar roupa social, coisa que detesto. E havia esquecido como essa é precisamente uma das coisas que mais odeio no "ser advogado": agora há pouco meu pai veio me perguntar, contrariado, como eu ia na audiência, pois ele sabe que não gosto dessas vestimentas; eu disse que iria de calça e camisa social. Ele se demonstrou irritado e praticamente "me intimou" (ele é um advogado, afinal) a ir com gravata e terno. Concordei logo, para ele sair e me deixar sozinho. Quando eu estagiava num Juizado, levava terno "de enfeite" às vezes, e detestava. Já odeio o calor deste país, ainda mais ficar me vestindo de palhaço para sofrer no sol e carregar um peso morto, inútil. Sempre tive pavor dessa mania dos advogados de querer se pavonear, de achar que a bendita roupa que trajam (igual a de todos os porteiros e motoristas) os faz superior, especiais, ou mesmo de considerá-la importante, indispensável. Ora essa. O operador do direito tem que estar apresentável, como de resto todos os profissionais em todas as áreas. Mas se faz um calor de trinta graus, para que serve o diabo da gravata, o grosso paletó? Para nada, obviamente. É uma necessidade ridícula de "tradição", de "formalidade". É a mania do macaco andar vestido para disfarçar o rabo. Não sei o que ocasiona isso, e sem dúvida é uma das razões por que os advogados têm tamanha má fama, grande parte (a maior, eu diria) justificada.

Na minha faculdade os professores entram todos de terno, mas agora já não conseguem manter a pose debaixo de tanto suor e logo os removem.

terça-feira, 23 de março de 2010

Obrigado

Eu odeio essas pesquisas e estatísticas publicadas na imprensa. Rejeito e desconfio de todas. Só acredito nas tangíveis, como "50% dos presidentes brasileiros portavam bigode no tempo do mandato". OK, perfeito, dá para analisar isso. Mas e coisas como "22% dos paulistanos traem suas namoradas"? Como assim? Perguntaram para todos os paulistanos comprometidos e depois fizeram a contagem? É impossível concluir essas coisas por amostragem — para não dizer que é imbecil. É tendencioso, inconclusivo e inútil. Não sei se rio ou se me desespero quando vejo essas informações sendo levadas a sério, sendo usadas como critério argumentativo, sendo citadas por "especialistas" em exposições. São pesquisas que nada dizem, isso quando não são encomendadas por segmentos políticos para mexer com a credulidade dos sempre letrados cidadãos deste país: se divulgam em épocas eleitoreiras a suposta preferência de algum candidato a cargo de representação, aí é aquela coisa, todo mundo comprará esse dado; quem não tinha candidato acabou de escolher, quem não quer que esse avançadinho ganhe também já escolheu — votará em seu adversário mais "forte" (que também foi definido pelas pesquisas compradas pela mídia).

Prefiro analisar as coisas eu mesmo.

domingo, 21 de março de 2010

Sou atriz

Não existe nada mais repulsivo em termos culturais "imediatos" que o estilo de vida das celebridades televisivas brasileiras. Um mundo tão absurdamente estapafúrdio, opiniões grotescas e personalidades ocas que nem madeira podre, gente que de manhã faz caras e bocas gravando novelas ou seriados de qualidade sofrível e nos momentos de folga, como bom aprendizado, vai para a praia ou para uma festa ou balada. Cansei de ver vilã de novela dando entrevista para revistas falando que fez um intenso laboratório para compor sua personagem: o exemplo mais citado é Bette Davis em A malvada. Naturalmente rio muito quando me deparo com uma informação dessas, prova que a grande intérprete interpelada nem sequer passou da CAPA do DVD do bendito filme. Mas é chique citar Bette Davis, né? O curioso é que esse povo se reveste de uma aura falsa de intelectualismo que é tão constrangedora quanto patética: quando fui ver ano passado Isabelle Huppert numa peça em cartaz num SESC, abundavam esses atorezinhos e atrizezinhas da Globo e asseclas. Fingem prestigiar o "bom" cinema, quando de noite já estão se prostituindo ante as câmeras televisivas e cheirando pó nos bastidores. É cômico, convenhamos.

Aí tem o caso das celebridades — um termo que já perdeu o sentido não pejorativo — que acreditam realmente serem importantes, terem algo a dizer, "formadoras de opinião". O que dizer disto? Algumas perguntas:
1) Quem é Maytê Piragibe?
2) Ela estava "limpa" quando deu essa brilhante entrevista?
3) Ela sabe que a Playboy também tem contos, ensaios, entrevistas (mais interessantes que a dela), matérias de comportamento etc.?
4) Se ela visse alguém lendo Milo Manara ou Guido Crepax teria ataque e diria que é uma pornografia suja?
5) De que vale ir ao teatro, bastião da cultura, ver atores da Record atuando em peças escritas pelos novelistas da Globo?
6) O que vale mais, ler a seção de piadas da Playboy ou ver uma novela da Rede TV! com Maytê Piragibe?
7) Posar apenas com lingerie é mesmo tão diferente de posar nua?
8) Ela se encaixa apenas na categoria de atriz ou também é celebridade e "p***" (sic)?

Há muito mais o que se indagar, mas não tenho vontade de prosseguir. Enquanto isso, eis aqui um blog interessante que denuncia um dos piores cânceres do tratamento de imagens hoje: o abominável Photoshop.

sábado, 20 de março de 2010

Angeli

Duas coisas que odeio e uma que adoro:

Odeio quando leio o horóscopo no jornal e lá estão coisas indecifráveis como "a lua de Vênus está em Plutão, fazendo o quarto minguante anterior ultrapassar a casa vizinha". Que diabos isso quer dizer?! Não sou astrólogo, raios! Fale logo se eu vou morrer ou se perderei a chance de falar com aquela garota em quem estou interessado.

Odeio pensar que ninguém lê o que escrevo — razão pela qual estou estudando parar de produzir crítica cinematográfica para a Zingu!, revista que cada vez mais sofre com a escassez de público e a baixa qualidade dos leitores.

Adoro constatar que a única aula em que interajo com alunos e professor é a do curso de francês, aos sábados; acho fascinante pensar que só ouvem a minha voz "oficialmente", participando da aula, em outra língua — e apenas uma vez por semana.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Encantado

Estava comentando com um amigo este belíssimo diálogo de A sereia do Mississipi:

— O amor dói?
— Sim, dói. Quando te olho, é um sofrimento.
— Ontem você disse que era uma alegria.
— É uma alegria e um sofrimento.


Isso é admirável. Lembro de uma entrevista em que o Simenon comentava que algumas pessoas criticavam seus romances policiais porque neles ninguém era inteiramente bom e ninguém era inteiramente mau. Eu também acho que todas as coisas importantes na vida são assim, "divididas" (por exemplo, faculdade é integralmente ruim; porque faculdade não é uma coisa importante), mesmo que as metades não sejam exatamente iguais.

E só isso que tenho a dizer. Pensar no que esse diálogo representa para mim foi uma alegria, mas também um sofrimento...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Anas Claras

Desde pequeno percebo como nossas vidas são ridículas em alguns sentidos (ou melhor: não são ridículas em alguns sentidos). Somos minúsculos. Se já é absurdo tentarmos nos situar diante de um universo sempre em expansão, um mundo gigantesco e um país do tamanho de um continente, há também as proporções do dia a dia: pessoas que vemos na rua e nunca iremos conhecer, gente com que cruzamos apenas uma vez na vida e outros tipos em que não reparam.

Vejo sempre alguns sujeitos andando por aí, há anos, e nunca soube o nome deles, nunca os conheci; lembro deles, de seu jeito de andar, seu tipo físico, às vezes até da voz, mas sei que nunca seremos apresentados e morreremos assim, sem contato. Eu gosto de tentar me familiarizar com essas pessoas de um jeito esquisito: se de certa maneira me encanta essa coincidência de todo dia ver alguém e não saber quem ela é, seu nome, no que trabalha, o que faz da vida, também gosto de imaginá-los aparições hitchcockianas no filme da minha vida. Sei que eles estarão lá, mas aparecem de repente, sem aviso, por tempo indeterminado, fazendo sabe-se lá o quê. Alguns eu identifico por um traço físico acentuado e até me acostumo a me referir a eles de alguma maneira que eu mesmo criei, por alguma razão. É fascinante pensar que alguém pode fazer parte da sua vida sem nem saber quem você é.

Por exemplo: perto do prédio onde moro esbarro freqüentemente com um sujeito de ar grave, barba muito espessa e branca. Já o vi num bar, na rua — inclusive uma vez paramos juntos na calçada para esperar um carro entrar em uma garagem, e o comentário rabugento dele, com seus botões, foi: "esse aí comprou a rua" —, já o vi em tantos lugares e ocasiões diferentes que não poderia deixar de me referir a ele de alguma maneira; eu o chamo de Monet, ou de Fernando Torres. Do mesmo modo há um sujeito caricatural que vejo também com freqüência, baixinho, testudo, cara de bêbado, muito feio, que inclusive costumo imitar para a minha mãe e ela reconhece na hora. Quantas vezes já não vi esse cidadão? Não sei nada sobre ele.

Verdade é que as distâncias são singulares e imprevisíveis. No meu prédio há uma garota que a minha família brinca dizendo que é a minha "noiva", por alguma razão (?). Eu não a conheço, ela não me conhece, e não a vi mais que raríssimas vezes; aliás, apenas dia desses descobri seu nome — por "xeretice profissional" da minha irmã, que parece saber quase toda a biografia da menina. Moramos no mesmo prédio há anos, ela estuda ou estudava na mesma escola que eu (saudoso Cristo Rei) e nunca vamos nos falar ou nos conhecer. Não sei se pela diferença de idade (ela é alguns anos mais jovem do que eu), mas talvez por desencontros naturais dos espaços urbanos: eu não freqüento os mesmos lugares que ela (bem, isso eu imagino), não temos nenhum amigo em comum e nem ao menos moramos no mesmo bloco. Esse tipo de coisa me intriga. Nunca a conhecerei senão por um acaso qualquer. E a gente mora no mesmo prédio, todo dia estamos a poucos metros um do outro!

Por sinal, também não sei o nome da maior parte das pessoas do meu condomínio, das inúmeras idosas que lagarteiam no sol dos dias quentes, dos pais das pequenas gêmeas que brincam debaixo da minha janela. Só posso concluir que no mar de bilhões de pessoas atualmente no planeta, cada homem é uma ilha.

P.S.: A saga do Adão continua, mas as novas cartas publicadas na Folha são tão constrangedoramente estúpidas que me escusarei de republicá-las aqui.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Esforço

Eu sou descrente quando falam que "querer é poder" e outros lugares-comuns do tipo.

Por exemplo: estudo. Tenho uma baita dificuldade com estudo na minha faculdade. Coisas que os outros acompanham com facilidade, decoram sem problema e praticam regularmente, demoro eras para entender (quando entendo).

Eu não sei o que é "estudar". Quando não sei alguma coisa, minha irmã diz: "basta estudar". Estudar para ela é falar em voz alta cada linha de cada página de um livro. Isso comigo não funciona. Eu me irrito e o resultado se torna contraproducente. Eu não sei estudar. Eu não sei o que é isso.

Há quem diga que é ler. Desde pequeno lia e escrevia muito. Tive diários, escrevi contos desde pequeno, histórias em quadrinhos, redações. Lia muito, vários livros por mês — lembro-me de um julho, acho que de 2000, em que li oito livros; o equivalente a dois por semana! —, sempre gostei de ler e sempre li a minha vida toda. Ainda hoje leio, mas infelizmente com menor freqüência. Tornei-me lerdo para ler, demoro, empaco. Demoro semanas para ler algo que lia em dias. Se ando selecionando mais os livros que leio, é porque demoro cada vez mais para lê-los, tenho sono, tenho ocupações a fazer que me impedem a leitura compulsiva. Eu não gosto disso, gostava quando era ágil e lia tudo que podia. Mas enfim: se o estudo é ler, como estudar? Lendo?

Nunca consegui memorizar nada na base da truculência. "Tem prova amanhã, vou decorar tudo hoje" não funciona comigo. Não sou ator. Minha memória só se presta a guardar informações de coisas que me interessam por paixão; sei falar de cor o título original, ano de lançamento e elenco principal de cada um dos filmes de François Truffaut, mas não sei dizer quais os recursos do processo civil, o que diabos é um efeito devolutivo e o que seria um embargo infringente. Não guardo nada disso. Não me orgulho; é um fato, contra o qual não consigo lutar.

Estudar para mim é algo que traz cansaço, desespero e dor (até física) por tentar enfiar na cabeça algo que não sinto, que não entendo, que nunca saberei. Quando estava no Ensino Médio, pensava, a respeito de matérias como Biologia e Física, que era extramamente desgastante me angustiar com coisas que eu SABIA que nunca iria entender. E é verdade. Nunca entendi várias coisas da escola. E não só eu, aposto: eu adoro gramática, mas conheço muita gente para quem as regras da língua são mais misteriosas que os autores das estátuas da Ilha de Páscoa. E eu sei que, no direito, nunca entenderei processos, seu funcionamento, como ocorrem as mudanças e o que isso tudo significa. Eu SEI. E isso me deixa mais desanimado ainda, porque não dá pra fazer qualquer coisa em direito sem saber processo — exceto talvez escrever livros desonestos ou dar palestras.

Isso me lembra aquela história de "basta você se esforçar". Não sei o que leva esse povo a achar que a humanidade é como uma linha de produção em uma fábrica, você pode fazer qualquer coisa para a qual te designem. Não é por aí. Existem pessoas que nunca terão capacidade ou habilidade para um determinado tipo de coisa. Que nunca compreenderão como se faz um trabalho. Que não podem trabalhar ou exercer uma profissão sem saber alguma informação que a pessoa, por mais que se esforce, nunca terá.

Para mim o direito é mais ou menos isso. Estou no quinto ano do curso e não sei mais de direito do que qualquer idiota que pegue códigos e leis na hora do almoço e leia tudo embolado, pescando uma coisa aqui e outra ali.

Talvez eu precise estudar.

terça-feira, 16 de março de 2010

O amor

Um dos meus contos mais recentes se passa numa espécie de delírio sentimental do protagonista — o que, aliás, é bastante comum nos meus textos ficcionais —, e na segunda e última página do texto o personagem diz a uma moça que a ama. O conto é um recurso literário que pode dilatar ou comprimir tempos, expressar elipses, mudar vidas em uma linha, fazer alguém se apaixonar em poucos parágrafos.

Eu não gosto da idéia desse "amor" repentino e tudo que é vendido como "amor" por aí, essas histórias de "alma gêmea", "amor à primeira vista", "cara-metade" (o Fantasma da Ópera está precisando de metade da cara). Para mim esses sentimentos horrorosos veiculados por telenovelas e filmes ruins são obsessões nefastas, tristes deteriorações dos afetos positivos humanos.

O amor não é dizer a cada instante que se ama alguém. O amor não é todo ano mandar e receber cartões no dia dos namorados. O amor não é uma coisa que você deva ou precise mostrar aos outros. O amor é uma coisa íntima. O amor é conviver, conhecer, se aproximar. O amor é tentativa. O amor é seu pensamento. O amor é olhar pela janela a garota que nem sabe que você existe (metaforicamente ou não).

Claro que no meu conto o amor deu errado, afinal eu não posso enganar a mim mesmo (mentira).

segunda-feira, 15 de março de 2010

Ontem, hoje (e amanhã?)

Tenho horror aos "donos da verdade".

Ontem fui num show no SESC do lado aqui de casa, e como havia saído sem nada para ler, peguei a revista que eles fazem e fui ver o que tinha de bom; havia uma entrevista com uma professora universitária de literatura — uma mulher aterrorizante, com certeza uma das pessoas com mais genuína cara de maldade que eu já vi —, e lá ela falava coisas como: "eu leio a alta (sic) literatura. Como entendo de Proust e Guimarães Rosa, tenho um parâmetro para saber o que é bom ou não". Meu Deus. Já não bastasse a cretinice de separar a literatura por níveis, ainda esse esnobismo repulsivo de achar seu gosto superior ao dos outros, de acreditar estar certo no meio dos errados. Uma coisa tão ridícula que nem me darei o trabalho de pesquisar o nome dessa cidadã, para não cobri-la de vergonha associando-a a uma abobrinha tão grande. Na mesma entrevista, aliás, outra pérola: a tal especialista e crítica literária disse que não existe como fazer grandes obras literárias em curto espaço de tempo, em nenhuma hipótese; que um grande escritor deve demorar pelo menos dois anos para parir uma obra-prima, pois essa é a "vazão" (sic) da literatura de qualidade. Acho que ela andou lendo tanto Proust que esqueceu-se de seus colegas Balzac, Verne, Simenon, admiráveis criadores de um universo magnífico de obras publicadas e escritas às dezenas, centenas de títulos.

Hoje eu vi na Globo a Fátima Bernardes enchendo a boca para cuspir agressiva que o ASSSASSINO (sic) de Glauco fora capturado, e que a Globo obteve a confissão (!) do sujeito. Se já é repulsivo essa imprensa mexeriqueira disfarçada de policial destruindo vestígios, pisando onde não devia (literal e não literalmente), concluindo o que não se deve, o que dizer do procedimento estapafúrdio dessa bisonha emissora de televisão? Primeiro, quem a autorizou a chamar um ACUSADO de homicídio de "assassino", já o condenando por leves e contraditórios indícios? Quem permitiu que ela veiculasse o crime como efetivamente praticado pelo tal cidadão, divulgasse seu nome, seus dados, sua foto? Se é verdade que outras emissoras também fizeram isso, não é menos verdade que a Globo conseguiu superar sua própria torpeza ao se aproveitar de um desgraçado encharcado de droga para sambar por cima da carne seca: uma repórter perguntou, com o maior caradurismo (grande Lobato) possível, se o detido havia realmente matado Glauco e seu filho — e qual foi a resposta?: um aceno positivo com a cabeça. E aí está a bela confissão da Rede Globo, uma prova cabal para qualquer condenação, um juízo embasado na perícia minuciosa do caso.

O engraçado é que esses pré-julgamentos, essas opiniões generalizadoras, essa falta de cuidado no se expressar e de pudor no acusar, são comportamentos para os quais as pessoas não ligam a menor importância. Até o dia em que forem vítimas dessa cafajestagem. E isso sim é bem verdade.

domingo, 14 de março de 2010

Said the white rabbit

O nome de um dos meus escritores favoritos agora tem estado constantemente em reportagens e matérias na grande imprensa, e a febre irá aumentar consideravelmente, pois um filme de grande orçamento e divulgação baseado em obras suas está chegando nas próximas semanas. Naturalmente falo de Lewis Carroll, cujas Alices serão adaptadas por Tim Burton, após as clássicas versões da Disney, de Svankmajer e tantas outras.

Carroll é uma das minhas maiores inspirações, um autor de absurda inventividade que escrevia com o coração e com a cabeça, sua mente de matemático sagaz e lógico e seu afeto e respeito pelas crianças (ou por todo o seu público). É um dos poetas mais originais e brilhantes que conheço, criador dos versos mais delirantes da língua inglesa. Um talento fora do comum para criar enigmas e fazer brincadeiras com rimas, citações, convenções, diálogos, palavras. Subvertia os esquemas narrativos da literatura vitoriana e ao mesmo tempo demonstrava sua paixão pela linguagem, pela estrutura textual, pela confecção dos personagens. Lewis Carroll é, em suma, um gênio, de pleno direito.

Mas não é disso que quero falar. E nem do mar de abobrinhas que com certeza surgirá mais uma vez após verificarem as "mudanças" ocorridas na transposição das Alices para o cinema (já falei rapidamente aqui o que penso desse horroroso problema). Eu quero é divulgar este excelente artigo escrito pelo único cérebro pensante da Globo Filmes, Jorge Furtado. Quem poderia saber que ele também é tradutor e estudioso e aficcionado por Lewis Carroll?

Mas claro que esse artigo infelizmente não terá força nenhuma contra a intensa incompreensão que ainda cerca Carroll e seus magníficos textos.

sábado, 13 de março de 2010

Desgosto

1. A velocidade das informações hoje em dia me assusta e me desagrada. Ontem cheguei da faculdade e me falaram do assassinato do Glauco, por volta das 10h; ainda nada havia de destaque em muitos sites importantes, como o UOL. Aí meia hora depois colocaram a manchete do homicídio. Ao longo do dia, inúmeros "esclarecimentos" foram sendo dados e eu imagino que só alguém que pegou a coisa no começo pôde entender tanta atualização; alguém que chegou em casa 22h, por exemplo, sem mesmo saber que o Glauco fora morto leu algo já totalmente "complementado", como: "Polícia diz que assassino de Glauco estava sob efeito de Santo Daime". Caramba! Deixem a notícia "Glauco é morto a tiros" e dêem mais informações em seguida, parem de correr tanto!

2. Abomino quem faz greve de fome, seja por que objetivo for, nobre ou não; é a mais covarde forma de convencimento, e não consigo me compadecer dos "mártires" que morrem por sua teimosia "idealista" — e nem respeitá-los, claro. Uma causa está perdida quando só a ignorância a resolve. E a greve de fome é uma disfarçada crueldade contra a argumentação.

3. Luluzinha Teen é algo abjeto, subespécie de plágio de Turma da Mônica Jovem — que já é ridícula por si, mas não é tão desonesta artisticamente. Indo descaradamente na esteira do sucesso de sua predecessora, Luluzinha Teen é uma espécie de Malhação em quadrinhos estrelada por personagens cretinos que da turma original da Lulu só mantiveram os nomes. Um engodo, um embuste, e não bastasse todo o aspecto moral, um quadrinho vergonhoso.

sexta-feira, 12 de março de 2010

GLAUCO FOI ASSASSINADO

Eu achava o trabalho dele nulo, detestava seu traço e suas idéias (se é que ele as tinha), abominava suas tiras (todas), inclusive falei aqui em 22/02 que ele escorregava sempre na repetição, de maneira até ofensiva ao leitor. Em suma, eu o achava um artista execrável.

Mas, caramba, o cara foi morto, junto com o filho, e na frente da esposa e da filha! Isso é lamentável demais, não encontro palavras que expressem meu choque diante da notícia totalmente inesperada — que recebi de várias pessoas assim que cheguei de mais um dia fracassado na faculdade, há menos de uma hora.

Acho que fazia muitos anos que eu não ficava assim com uma morte de alguém famoso, porque afinal de contas são cada vez mais raras essas situações bruscas com alguém da mídia (já que vivem cercados de seguranças a torto e a direito). Mas o Glauco era "só" um cartunista, e naturalmente não tinha tantos luxos — e ainda por cima foi morto de madrugada em Osasco, cidade por que não gosto sequer de pensar de dia, quando mais de cruzar à noite.

Um acontecimento que mexe com toda uma geração do cartunismo brasileiro, porque, bem ou mal, o Glauco era respeitado e era amigo e influência de toda a patota Chiclete com banana oitentista. Todo dia saía tira dele na Folha (e eu já havia há muito parado de as ler), regularmente também publicava na Folhinha...

Só me resta ficar chateado, por essas crueldades da vida contemporânea. A notícia é de fazer qualquer um ficar pasmo.

Condolências à família, que precisará agora tentar enfrentar o resto de suas vidas com a alegria e o bom humor que o Glauco (no fundo) tinha.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Idade mental

Outro dia na faculdade discutia-se na minha fileira alguma coisa qualquer que levou a um assunto em que sempre penso: idade. Era sobre alguém da minha faixa etária namorar ou ter amigos mais novos; o tom era de desaprovação, estilo "o que uma pessoa de vinte e tantos anos procura em alguém com quinze ou dezesseis?".

Entendo que possa parecer absurdo para a maioria dos palpiteiros, mas nunca irei concordar; não acho um abismo intransponível esses poucos anos que separam o período adolescente da "mocidade", não acho que essa idade seja especificamente imatura, não mais que todas as outras. Aliás, acho que fiquei bem mais imaturo no decorrer de cada ano da faculdade, e me inclino a falar que a vida adulta é a destruição paulatina de todas as boas conquistas da infância e da adolescência.

Mas o que eu falo é uma coisa, nadar contra a corrente é difícil se você não tem bons braços. Uma namorada de dezesseis anos não me pareceria um crime condenável — e nem é, afinal —, mas aos olhos dos pais da moça eu poderia parecer um estuprador em potencial, um corruptor de menores, um deflorador de virgens.

O que me leva a achar que idade não diz nada — pelo menos nesses assuntos afetivos — é talvez apenas a pura observação dos casos que nos rodeiam. A jurássica Susana Vieira, por exemplo, não tem mais maturidade que qualquer atriz teen americana do momento: nenhuma delas preserva sua vida pessoal em entrevistas, nenhuma delas se afasta de coisas fúteis, paparazzi e holofotes, nenhuma delas tem uma relação amorosa estável, nenhuma delas serve de exemplo para a vida de ninguém. E quantas décadas não as separam?

Acho que estamos na idade de mudar de cabeça. As meninas de dezesseis já perceberam isso, falta agora ensinar o beabá aos seus maduros genitores.

quarta-feira, 10 de março de 2010

You've got mail

Há coisas que entraram em extinção e eu lamento muito.

Acho que o principal exemplo são as cartas. Hoje se recebe pelo correio apenas contas, cobranças, notificações, algumas encomendas, propagandas. Onde estão as cartas para os amigos? A caligrafia pessoal, a vontade de conversar à distância, a espera pela chegada de uma nova carta? Como fazer para mandar uma carta apaixonada para uma garota em tempos de e-mail? Como mandar uma carta anônima para aquela sua paixão vizinha de prédio, colega de escola, conhecida de rua? É algo que não se vê mais, e se alguma garota recebesse uma carta nessas condições com certeza ficaria assustada achando esse assédio coisa de psicopata; e assim os amores tímidos via correspondência secreta morreram junto com as cartas.

Que resta do romantismo ingênuo da comunicação escrita de próprio punho? A escolha das palavras, o tempo que separava as respostas, o papel, a tinta sulcando as linhas? Onde foram parar os bilhetinhos amorosos, engraçados ou simplesmente informativos que se trocava anos atrás?

segunda-feira, 8 de março de 2010

Cálice

Não sei qual a melhor coisa que fiz na vida, mas a pior eu digo na hora: entrar na faculdade. Não sei se foi pelo curso ou pela faculdade (provavelmente pelos dois), mas sem sombra de dúvidas foram os piores anos da minha vida até agora.

O que para muita gente é motivo de alegria e de orgulho para mim foi um mar de solidão, tristeza, agonia, desespero, chateação, problemas de saúde, oportunidades perdidas, efeitos colaterais negativos.

Não sei se foi por ter entrado "na inércia" em um curso com o qual não tenho a menor afinidade e com a projeção de uma profissão para a qual não tenho uma mínima vocação; acho que não. Consolo-me às vezes pensando que não poderia ser de outro jeito: aos dezessete anos somos empurrados para uma escolha definitiva, "o tempo é agora e você deve escolher"; acontece que além de não termos qualquer tipo de noção do que nos espera, existem pessoas que parecem não conseguir se encaixar em nada. Eu penso ser uma delas. Não tenho talento para cálculos, não sou uma pessoa prática e não tenho boa memória.

Eu faço faculdade de direito e não tenho qualquer motivação; não gosto de códigos, livros de doutrina jurídica, dificilmente pesquiso leis e qualquer outra coisa relacionada a essa área. Mas que poderia eu fazer da vida? No momento da escolha do vestibular eu provavelmente já intuía essa falta de opção — que depois mostrar-se-ia um fato — e comecei meu sistema, utilizado mais ou menos do modo original até hoje, de "ser levado". Sou levado pelas circunstâncias, pelos momentos, meus dias não são mais que o intervalo entre um aborrecimento e outro. Deve ser por isso que gosto tanto de ler, que necessito ver filmes, ouvir música, respirar arte mesmo que à custa de um tempo que acreditam que eu desperdiço: a minha vida é o que não é a minha vida.

Hoje tive uma aula que é virtualmente a pior da semana e que me deixa muito mal sempre: meu estômago dói, abaixo a cabeça (que me pesa horrores nessas horas) porque a professora gosta de humilhar alunos com perguntas específicas para as quais eu evidentemente não tenho resposta alguma — porque é meu direito não saber a matéria e também não me interessar, mas não é direito dela me humilhar e explorar minha ignorância na frente de todos (e a quem reclamar?) —, fico até com o pescoço doendo; um sono terrível, uma morosidade inacreditável, uma falta de ânimo que se reflete na destruição da legibilidade da minha caligrafia, que faz meu caderno parecer uma partitura de sinfonia escrita por um macaco.

No final das contas, essas oportunidades servem para me trazer de volta à realidade. Meu mundo não são filmes franceses, garotas de saia que falam do amor, mas o mundo da incompreensão, do aluno ao lado rindo de uma piada jurídica que eu não entendi — e que se entendesse continuaria sem rir —, da professora cercando estudantes como um pequeno ditador de uma ilhota de bananais, dos familiares se irritando quando reclamo ("você cospe no prato em que come", "você não valoriza o esforço do seu pai", "você precisa botar os pés no chão"), dos colegas que nunca serão meus amigos, de gente que não entende o que faço lá — como de resto nem eu entendo —, da apatia ante o futuro nada brilhante que me espera, da saudade idealizada da minha infância tão querida.

O único direito do curso de direito é o direito de ficar calado.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Vacaria

As vacas espalhadas pela cidade de São Paulo são uma idéia de que sempre gostei, (ou seja, desde a primeira implantação). Fiquei bastante satisfeito com o retorno delas às ruas paulistanas. Na verdade, vejo poucas bovinas, já que meu campo de freqüência é bastante limitado; mas elas alegram o ambiente e são uma interessante forma de arte urbana.

Mas o que dizer dos vândalos que destróiem os pobres animais de plástico? Que as picham, que as rabiscam, descascam, depredam, danificam de todas as maneiras? Esses são os verdadeiros bichos, subespécies humanas que acabam com qualquer coisa positiva. Aí as vacas são confinadas, ficam em interiores de prédios, em lugares inacessíveis, longe das vistas das pessoas. É o único jeito de protegê-las durante sua curta estada aqui, parece. Ou colocar os vikings citadinos num curral, o que seria uma inovação peculiar (fica a dica aos pedagogos).

Outro dia vi uma chamada da Globo criticando o "fato" de que as vacas fazem na maior parte das vezes propagandas de empresas e produtos. Nem vou perder meu tempo defendendo os ruminantes, mas os executivos do jornalismo global com certeza pastam antes de escreverem as pautas do dia: é só ver qualquer minuto de uma telenovela do horário nobre e constatar que a ética e corretíssima emissora veicula em seus textos ficcionais até as marcas dos sutiãs de suas atrizes — em diálogos escandalosamente artificiais para promover suas parcerias de merchandising. Então olhe para seu rabo, macaco.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Três pontos

1) A história do Adão continua; felizmente os leitores jovens "ouviram" meu apelo:

AINDA O ADÃO... 1
"Assusta ver senhores no século 20 julgando os quadrinhos como [Fredric] Wertham no seu "A Sedução dos Inocentes", livro polêmico de 1954 que acusa as HQs de corromperem os espíritos juvenis. Numa boa, adolescentes não são gado, guiados exclusivamente pela indústria cultural. Não é o Adão quem vai macular a imagem pura da família tradicional. Basta os jovens olharem para o rumo que seus pais dão aos seus casamentos para verem que essa instituição não é sinônimo de bom caráter."
Luriel, 23, Belo Horizonte (MG)

AINDA O ADÃO... 2
"Concordo com a leitora que disse que é uma pena que o Adão tenha que frisar que seus quadrinhos são de humor. Não somos tão influenciáveis a ponto de ler um quadrinho e já achar aquilo tudo do casamento!"
Giulia Lopes, 18, Embu-Guaçu (SP)

2) Descobri que a rede Globo comprava os jogos das Olimpíadas de Inverno — com os quais eu não poderia me importar menos — há anos, e nunca os exibia! Isso é criminoso. Impedir que outras redes veiculem atrações pelo simples prazer de inviabilizá-las às concorrentes. O Oscar está pelo mesmo caminho: ano passado a Globo o exibiu mais mutilado que Tiradentes por causa do Carnaval, este ano a desculpa é o Big Brother Brasil. E ainda tem gente que acha que tudo que se fala de ruim da Globo é invenção.

3) Por que reclamam tanto da "falta de lógica" em obras artísticas? O surrealismo está em toda parte, basta perceber; o anúncio de lingerie a seguir é um bom exemplo:


O que dá para extrair disso? Uma moça que sai à luz do dia de roupas íntimas — e ela está penteada e maquiada, ou seja, "ready to go out" — e outra que, de pijama, se diverte com a amiga e esquece de avisá-la que a expressão "apanhada de calças curtas" não significa exatamente sair de calcinha na rua.