quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Os outros

Existem algumas coisas que simplesmente não conseguimos fazer.

Eu, por exemplo, sempre fui péssimo para decorar coisas. Só decoro informações "não importantes", coisas de que gosto, nomes de filmes, autores de quadrinhos, títulos de livros. O que é muito ruim para a minha área de estudos, que é basicamente um amontoado de legislações e fórmulas processuais puramente baseadas no acúmulo de dados, na repetição, na decoreba.

No cursinho, estou estudando diariamente dezenas de peças (é assim que eles chamam os documentos de ações e recursos), para um exame que ocorrerá daqui a menos de três semanas. Meus colegas sabem de cor as coisas que os professores perguntam, eu não. Eles acham tudo fácil, eu não. Eles conseguem praticar todo dia e tirar disso algum proveito, eu não.

Certas coisas podem parecer fáceis a todo mundo mas constituir ao mesmo tempo um problema incontornável a você. Eu também pego de exemplo dirigir. Antes de tirar carta, eu olhava na rua e pensava: QUALQUER AMEBA CONSEGUE DIRIGIR. Ainda hoje penso assim. Mas qualquer ameba, não eu. Não que eu me sinta o suprassumo da inteligência (não me sinto), mas já percebi que não há cabimento em pegar aleatoriamente pessoas de outros lugares, outras vidas e aparências, para usar de comparação: "até esse aí sabe dirigir e dirige bem, logo, eu devo conseguir também". Depois que eu passei pelo exame da auto-escola, percebi que não tenho segurança em conduzir veículos; na vida real não existe vassoura colocada para medir baliza, e não dá para treinar em rampas ou ruas, se você tira o carro da garagem ninguém vai esperar você treinar — a única coisa que se espera é que você dirija logo.

Então um dia percebi que existem coisas para as quais temos aptidões, talentos e competências, e outras que, não importa o que digam sobre seu grau de dificuldade, sempre serão um mistério para nós.

Também nunca consegui amarrar rápido cadarços, o que é uma das razões para eu só usar sapatos que não os têm.

10 comentários:

  1. é so deixar os cadarços um pouquinho folgados. daí dá pra vc colocar e tirar o tenis sem desamarra-los. pelo menos é assim como eu faço.

    pois é, cada qual com sua virtude. ou desgraça. sei la!

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  2. Mas aí então ele não prende mais do que um sapato que não tem cadarços, ou prende? De qualquer modo, VIVO DO MEU JEITO E SOU FELIZ, rs.

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  3. Eu com matemática. Daquilo tudo eu absorvo nada. Sempre me senti muito burro e mal por não entender matemática (nenhuma de suas vertentes e estudos). Não entendo NADA mesmo. To passando na escola não sei como.

    E eu nem odeio a matemática, acho até bonito, inclusive, toda aquela lógica precisa e sempre fico fascinado com o entendimento que os professores tem daqueles números e quações todas que pra mim sempre foram e sempre serão uma coisa inintendível.

    Provavelmente rodarei no vestibular por causa dela. =(

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  4. "Então um dia percebi que existem coisas para as quais temos aptidões, talentos e competências, e outras que, não importa o que digam sobre seu grau de dificuldade, sempre serão um mistério para nós."

    Recomendo você se informar sobre inatismo e empirismo...

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  5. http://www.brasilescola.com/psicologia/empirismo-x-inatismo.htm

    Olha só! Não conhecia esse "inatismo", que é mais ou menos a coisa que instintivamente descrevi aqui! Confesso que, apesar de achar interessante, sempre tenho um certo receio dessa característica que a ciência/medicina tem de querer classificar todos os nossos atos, pensamentos, ações, psicologias etc. Parece meio fatalista, dogmático. "Se você ama sua namorada, é porque a configuração de seus hormônios assim o determinou"...

    E eu te entendo, TRUTA. Também não tenho facilidade com exatas, e mesmo assim gosto muito de física, de pensar no que a astronomia pode fazer, a que entender números e suas possibilidades pode levar... Ah: leia Aritmética da Emília!

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  6. Você pode se surpreender com você mesmo. Eu não imaginava que fosse saber dirigir direito. Errei muito, passei vergonha e até chorei. Mas de tanto meu pai me fazer pegar o carro, eu consegui. Mas só consegui mesmo quando passei a dirigir sozinha. Tem quadras com ruas um pouco mais calmas onde mora? Aproveite os feriados, as manhãzinhas, etc. Ah, e com alguém que não te irrite, tenha paciência e não morra de medo. Eu sempre digo que é até melhor com quem NÃO dirige. Você só frequentou a auto-escola, Desistir aí não vale, hein!

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  7. Eu não desisti de dirigir! Agora que minha carteira ficou definitiva, sinto-me mais livre para cometer pequenos erros escusáveis (que antes podiam facilmente tirar minha carteira provisória), e, se eu conseguir uma folga de verdade nesses horrivelmente atribulados meses por que venho passando, com certeza removerei a ferrugem e retomarei a condução!

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  8. heheh! :)
    Não pude deixar de "me ver" no seu cursinho, embora eu queira acreditar que não esteja tão mal - eu "ajudo" minha memória a decorar as teses e os artigos das peças colocando bandeirinhas grudentas ridiculamente coloridas nos meus códigos. rs! Quanto ao dirigir, por incrível que pareça as pessoas em São Paulo têm bem mais paciência e respeito no trânsito que no interior (em Franca, por exemplo). A vida paulistana é na direção, basicamente, e isso criou um certo código de conduta para fazer o trânsito "funcionar", que vai além do código de trânsito (logicamente, tirando os excessos, aqueles realmente estressados na direção). No interior, a cada dia aumenta a quantidade de carros, mas a estrutura provinciana da cidade continua. Mas pense bem, enquanto você (por enquanto) não "se encaixa" no trânsito de SP, pense em quem chega nessa cidade e vê o metrô pela primeira vez, a quantidade de avenidas, marginais, carros, ônibus... também acham (inclusive eu, muitas vezes!) que nunca serão capazes de se adequar ao ritmo da Metrópole.
    Aindo me fio à filosofia de que tudo é questão de costume, e que a necessidade acaba ditando grande parte de nossas habilidades, queiramo-nas ou não, felizmente ou não... :)

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  9. Bem, a estrutura daqui não muda mais muita coisa também. São Paulo já cresceu tanto que agora ameaça ruir...

    E não seja por isso: eu ainda não me adaptei ao ritmo da cidade até agora. :)

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