quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A visita

Hoje fui com meu pai e minha mãe visitar um amigo deles que teve um derrame. Aliás, pior: teve o segundo AVC após poucos meses. E quando cheguei lá e vi o estado do homem pasmei: abatido, esvaziado como uma sacola de supermercado já usada mas sem nada dentro, de uma indefinível cor entre amarelo e verde, jogado imóvel, o desespero nos olhos embranquecidos (como seus cabelos), dificuldade para falar uma sílaba que seja, a boca caída, apagado numa poltrona perto da janela, cheio de aparelhos e tubos por perto, o enfermeiro do lado. Achei verdadeiramente lastimável e imediatamente senti um pavor incontrolável de ficar assim um dia, de ter isso também. Meu pai, ao final da visita, sorriu e disse que o amigo melhorou muito. Não quero imaginar como estava antes. Mas sei que hoje estava num estado deplorável. Pelo menos estava consciente e relativamente bom de memória e comunicação, porque o pior de tudo é vegetar. Mas não sei, talvez seja pior ficar assim, nessa zona de transição. Nem digo pela família, que obviamente se preocupa e se fragiliza muito, mas pelo convalescente mesmo. E será que ele teria forças para gritar para acabarem logo com isso?

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