terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Nação

Desde pequeno fui inconscientemente instruído a olhar com certa desconfiança para aqueles vendedores orientais de bugigangas, aparatos eletrônicos e quinquilharias em geral. Verdade é que às vezes o receio é desconfiado, há entre eles vários embusteiros e pilantras, que só se interessam pelo seu dinheiro (talvez também por sua irritação); mas há gente ruim em todas as etnias, não dá mais pra duvidar disso.

O que só parei para pensar outro dia é como alguns desses vendedores levam uma vida triste. A maioria vem do Oriente sabe-se lá por que razão, provavelmente esperando melhorar de vida e ter mais oportunidades, e permanecem aqui isolados, muitas vezes segregados em pequenas comunidades que procuram imitar seu local de origem, e quase nunca falam português fluentemente.

Aqui perto da minha casa tem um pequeno shopping, espécie de galeria estendida, e num dos estandes próximo ao ianquíssimo McDonald's há um vendedor oriental, creio eu que chinês ou coreano. Ele sempre está com cara meio amarga, vendo sozinho um filme de sua terra ou com legendas escritas em sua língua. Quanta história esse sujeito não terá deixado para trás? Quais serão suas raízes e os motivos que o fizeram deixar a pátria? Será que ele não gostou do Brasil e prefere permanecer como numa embaixada de seu país, mantendo todas as suas tradições e hábitos, não querendo conhecer a cultura brasileira e nem ao menos desejando se expressar no idioma do país que ora habita? Não é triste perceber como ele quer viver outra realidade? E constatar que ele possivelmente nunca retornará à sua terra natal?

Por isso cada vez mais admiro esta frase de Alejandro Jodorowsky, quando indagado por que se estabeleceu na França: "eu não moro em Paris, eu moro em mim mesmo". Também dele: "A pátria de um homem são seus sapatos". A felicidade de um homem não está condicionada ao seu país, mas a seu espírito.

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