quarta-feira, 30 de junho de 2010

Carochinha

Eu adoro contos de fadas, fábulas, histórias das mil e uma noites e todo tipo de narrativa assemelhada. Desde pequeno, e continuo gostando muito, a lógica que estrutura esses textos é algo de tão assombrosamente brilhante que eu não sei como só recentemente a crítica literária tem se detido a estudar esses gêneros ficcionais.

O problema é quando analisam essas obras desta maneira: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/759236-contos-de-fadas-nao-contribuem-para-amadurecimento-da-crianca-diz-terapeuta.shtml

Não sei, parece que o entrevistado estava tão interessado em ir na contracorrente que não se preocupou em perceber que boa parte das obras infantis lida com símbolos, com elementos fantásticos, com representações oníricas de uma realidade que a criança provavelmente nem enfrentou ainda. Observar tudo com o olhar de quem percebe um fenômeno social ou comportamental é, além de absurdo (pois outra época e contexto), ridículo. A todo instante ele parece se questionar quais os efeitos que essas histórias têm sobre as crianças, ou o que elas acham dessas narrativas; a ironia é que no começo da página é dito que ele tem não sei quantos filhos e netos — parece que nunca ouviu a opinião deles sobre isso, e provavelmente sobre mais nada.

A sanha em desmistificar teses consagradas às vezes leva ao simples desejo de vaidosamente expor sua erudita opinião contrária. Talvez o ilustre terapeuta devesse ler de novo todos os contos que acredita serem pouco recomendáveis às crianças, ou pedir auxílio a uma delas na interpretação dos textos — porque certamente elas possuem mais imaginação sobre o que é o mundo e a vida.

16 comentários:

  1. Falando em contos "pouco recomendáveis para crianças", tô aqui COM A COLEÇÃO COMPLETA DA EC COMICS, PORRA!!!!111one

    Sei que você não é adepto de scans, tb não gosto, mas abri exceção para isso e para as obras quase completas do Milton Caniff e do Alex Raymond.

    A da EC já está aqui comigo. Tem todas as de terror, crime, guerra, ficção científica e, claro, as Mads. Tem também uns gibis mongos que eles editavam antes de investirem no terror, mas esses valem só como curiosidade mesmo.

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  2. Por "crítica literária" você quer dizer o que, acadêmicos e afins? Contos de fadas já são estudados pelo menos desde o séc. XIX. Quase todas as escolas de psicologia, das mais conhecidas, já estudaram e falaram da importância desse tipo de história. Isso aí só deve ter sido publicado mesmo por ser uma opinião "diferente", sendo que é tão diferente que, pra falar disso com alguma base, ele teria que ir contra a psicanálise - mas preferem só dizer que o sujeito é psicanalista e pronto.
    E vários autores que escreveram nesses gêneros já são respeitados há bastante tempo. O que estraga é aquela visão de que contos de fadas "são pra crianças", e pior ainda, que crianças são sub-pessoas e blablablá.

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  3. Sim, me referia a esse tipo de estudo. Mas não sabia que analisavam os contos há séculos, há algo publicado por aqui sobre isso? Sei que havia trabalho de coleta, arquivamento, separação cronológica e até pesquisa comparativa (mais com fábulas mesmo, com o La Fontaine organizando Esopo, Fedro etc.), mas crítica em si sempre pensei que fosse algo recentíssimo.

    E bem, os contos (a maioria, pelo menos) foram feitos mesmo para crianças. Mas isso não permite considerar literatura infantil é papo de elevador, ou que é subliteratura pelos temas, estilos e resoluções, ou que sua contextualização e análise é dispensável porque o público alvo a utiliza apenas como textos introdutórios à leitura etc. Há muito preconceito rondando por aí.

    E Salomão, quantos volumes são ao todo? Eu sempre me coço com esses scans, muito mais do que com os luxuosíssimos encadernados que sempre vejo por aí, mas como odeio ler quadrinho no computador e estou com pouco tempo para ler vou me contentando com o de sempre e mais Complete Peanuts, que já tenho até meados da década de 70, uma aquisição fabulosa. Por falar nisso, está comprando a coleção de literatura da Disney?

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  4. Eu não gosto muito de scans também, mas estou mais aberto com a idéia. Esses que te falei são tirados de volumes importados que custam o olho da cara e cujas coleções eu nunca teria recursos pra comprar, pelo menos não inteiras. E você sabe muito bem o sacrifício que é conseguir esses materiais em português -- são difíceis de achar, mutilados, cronologia picada etc. Pra piorar estou sem emprego, daí foi juntar a fome com a vontade de comer.

    É bem compensador, viu. A coleção completa de Terry e os Piratas, por exemplo, compilam todo o período que o Caniff desenhou a tira e são 16 volumes, cada um com cerca de 50 megas. Se baixar tudo, dá mais ou menos o tamanho do arquivo de um filme. E tem um programa específico para visualizar os scans, que não fodem tanto a formatação das páginas, elas ficam do jeito certinho na tela, com a mesma visualização que você teria com o gibi na mão. Se te interessar eu passo os links.

    A coleção da Disney não estou comprando, por falta de grana inclusive.

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  5. Pô, ainda pergunta? Links já! E obrigado. Eu também nunca iria comprar mesmo algo tão caro e raro assim...

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  6. A maior parte eu tô pegando desse site:
    http://hqpoint.blogspot.com
    A coleção do Caniff tá lá. Tambem tem Burne Hogarth, Jesus Blasco, Alex Raymond, Jodorowsky, CC Beck, muita coisa do Jack Kirby e o caralho a quatro.

    E viva a Holanda!

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  7. A coleção da EC é um torrent.
    Vai no Scrapetorrent e marca EC Comics que vc acha.

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  8. Essa associação com crianças também é coisa do séc. XIX. O negócio é que o gênero se mistura muito com folclore em geral, que sempre foi muito mais tradição oral. Aí você tem adaptações disso pra várias literaturas, algumas mais tardias (e, por exemplo, na onda do moralismo vitoriano, fazendo aquela diminuição ou "adaptação" das coisas pra direcionar as histórias pro público infantil).
    E se for procurar as influências da maioria dos autores mais recentes que estudaram isso, vai chegar em caras do séc. XVIII ou até mais antigos. Talvez tenham começado a estudar mais depois do Iluminismo, mas aí já é bastante tempo (ainda mais se for considerar a dimensão da crítica literária em geral em cada século).

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  9. Obrigado, Salomão! Para agradecer, divirta-se com seu homônimo: http://www.youtube.com/watch?v=OICwQ_AUDzo

    E Holanda não é só legal por ter meninas de avental e trancinhas dançando com seus tamancos próximas a moinhos em campos floridos, mas por ter eliminado o Brasil e acabado com essa nojenta histeria ufanista, pelo menos pelos próximos quatro anos.

    Mas, Lucas, o conto de fada "como gênero" surgiu mesmo no século XIX, não? Antes podia ser folclore e o escambau, mas só a partir de 1800 e pouco que começaram a escrever dentro desse gênero específico e reelaborar histórias para caber nele. Não?

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  10. Claro que a criação do gênero foi resultado dessa adaptação, porque foi quando começaram a escrever. Se antes era tradição oral e se misturava com outras coisas, só vai achar isso em outras fontes. Você não encontra um Hans Christian Andersen no séc. XII, mas acha diferentes obras que fazem referência aos mesmos temas e histórias.

    E se tem algum preconceito com conto de fadas, é resultado do pensamento da época que criou o termo e direcionou esse tipo de coisa pras crianças. A própria existência do gênero já carrega essa visão preconceituosa.

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  11. É verdade. Mas, claro, ser considerado "para crianças" não é o problema. Lobato escrevia para crianças, nunca negou, e isso não é preconceito ou considerar a literatura infantil dele algo menor. O chato é mesmo quando tacam tudo num balaio, e tratam esses gêneros com desdém ou condescendência ("criança gosta de cada coisa..."), ao invés de estudar o fenômeno em sua profundidade e contextualização.

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  12. CITIZEN KANE!

    Pô, os caras sem nenhum senso de humor.
    Conseguiu pegar os gibis?

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  13. Como descobri que foi você, hein? Eu também fiquei bravo no começo, depois vi o "olhossemroupa" e entendi a sacanagem. MAS TOMARA QUE TE EXPULSEM, rs.

    Ainda não peguei. Tou meio "congelado" até a prova de terça, aí baixarei os gibis e mais umas pendências aqui.

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  14. O HARVEY PEKAR MORREU, QUE MERDA!

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  15. Espero que pelo menos o Crumb declare luto e não vá na FLIP! Quer dizer, quando alguém como Harvey Pekar morre é preciso haver alguma compensação bem grande, rs.

    Bah... E eu não tenho nenhuma American Splendor original, e ainda acreditava que iria comprar uma, pegar autógrafo e tals. Antes do Bergman morrer eu também acreditava que o conheceria pessoalmente. Pouco a pouco meus ídolos vão morrendo...

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