quarta-feira, 30 de junho de 2010

Carochinha

Eu adoro contos de fadas, fábulas, histórias das mil e uma noites e todo tipo de narrativa assemelhada. Desde pequeno, e continuo gostando muito, a lógica que estrutura esses textos é algo de tão assombrosamente brilhante que eu não sei como só recentemente a crítica literária tem se detido a estudar esses gêneros ficcionais.

O problema é quando analisam essas obras desta maneira: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/759236-contos-de-fadas-nao-contribuem-para-amadurecimento-da-crianca-diz-terapeuta.shtml

Não sei, parece que o entrevistado estava tão interessado em ir na contracorrente que não se preocupou em perceber que boa parte das obras infantis lida com símbolos, com elementos fantásticos, com representações oníricas de uma realidade que a criança provavelmente nem enfrentou ainda. Observar tudo com o olhar de quem percebe um fenômeno social ou comportamental é, além de absurdo (pois outra época e contexto), ridículo. A todo instante ele parece se questionar quais os efeitos que essas histórias têm sobre as crianças, ou o que elas acham dessas narrativas; a ironia é que no começo da página é dito que ele tem não sei quantos filhos e netos — parece que nunca ouviu a opinião deles sobre isso, e provavelmente sobre mais nada.

A sanha em desmistificar teses consagradas às vezes leva ao simples desejo de vaidosamente expor sua erudita opinião contrária. Talvez o ilustre terapeuta devesse ler de novo todos os contos que acredita serem pouco recomendáveis às crianças, ou pedir auxílio a uma delas na interpretação dos textos — porque certamente elas possuem mais imaginação sobre o que é o mundo e a vida.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

ABC

Uma colega me disse que me disse que meu nome saiu errado, grafado com "e" (Felipe), no convite de luxo da formatura. Não liguei muito, até porque não participo de formatura nenhuma e muito provavelmente não poderei nem sequer colar grau, graças à nefasta criatura mencionada dois posts atrás neste blogue.

Mas o caso de errar meu nome é antigo e já me despertou emoções as mais diversas possíveis. Quando mais novo, costumava ficar irritado, às vezes nem atendia se me chamavam de Felipe. Grifava o "i" no meu prenome, explicava que a origem de Filipe é uma junção das palavras gregas "philos" (amigo) e "hippos" (cavalo), que Felipe é uma forma espanholizada do nome original. Mas nada adiantava.

Parece que meu nome é tão complicado de entender quanto seria se eu me chamasse Huckleberry ou Belerofonte. E no entanto só tem seis singelas letras, duas até repetidas, uma consoante sempre seguida de uma vogal. Quer dizer, mais simples impossível. Mas mesmo assim teimam em errar.

Hoje não ligo muito. Se as pessoas não compreendem a diferença de pronúncia entre "i" e "e", bem, problema delas. Deve ser o mesmo pessoal que pronuncia "teoria" como "tioria", que é uma das coisas mais bizarras que já ouvi. De qualquer modo, já não me recuso a atender se escrevem ou falam errado meu nome. Mas ainda assim isso demonstra um pouco de descaso, parece que as pessoas não se dignam nem a se deter um segundo para ver como se escreve ou pronuncia o diabo do nome. O pior é quando lêem algum documento meu e ainda assim erram.

Por sinal, sempre fico com pé atrás quando é um médico ou algum profissional do tipo que escreve meu nome errado na ficha ou na receita. Penso: "não sabe nem escrever meu nome, vai saber me receitar algo que presta?". Mas hoje só corrijo mesmo em caso de necessidade comprovada, como num cadastro onde colocam meu e-mail — porque se mudarem a bendita vogal a mensagem nunca chegará até mim.

Aí que eu rio quando falam do valor da educação, sendo que não sabem nem escrever um nome tão simples e corriqueiro como o meu, nem com todo o estudo e prática do mundo. E nem quando eu soletro!

P.S.: Nem vou adentrar as ridículas variações que já ouvi/li de gente que não sabe MESMO que existe o meu nome. Basta falar que o favorito do pessoal é (quando digo que "é Filipe com i"): FELIPI.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Todos juntos

Eu tenho pavor de quem acha que mobilização é um dever de todos. Eu dificilmente me engajo em causa que seja, acho já difícil cuidar da minha vida, que dirá abraçar os problemas dos outros, "lutar" por reformas sociais e não sei mais o quê. Mesmo assim, gosto quando são feitas coisas sérias e de pertinência minimamente relevante, o que NÃO ocorre com freqüência.

Acho engraçado eventos como o No Pants terem tanta aderência, quando esse mesmo pessoal podia se organizar para fazer qualquer coisa que prestasse. Mas não, ir sem calças pegar doenças nos bancos do metrô é mais cool. Centenas de seres pululam dos becos da cidade nos dias programados e andam por aí, se achando transgressores (sendo que antes eles precisam avisar ao Metrô), originais (sendo que esse tipo de coisa já foi feita em mais países que os reconhecidos pela ONU), ousados (sendo que a maior "ousadia" são as sósias de Mercedes Sosa achando que desfilar de roupa de baixo as faz virarem sósias da Shakira).

Outra mobilização cretina é o pretenso espírito de patriotismo que assola o país em tempos de Copa. Esse mal é tão batido que ainda me admira que a maior parte das pessoas ainda insista nesses "orgulho-de-ser-brasileiro" (-que-só-dura-até-a-primeira-derrota-nos-jogos), com direito a bandeirinhas a torto e a direito, lojas e casas enfeitadas com o verde e amarelo, surto coletivo nos dias das partidas (amanhã o Brasil estréia, e lógico que nem sairei de casa).

E outro transtorno quase sem escapatória é a Parada Gay, uma das mobilizações mais infelizes de que se tem notícia. O objetivo alegado é celebrar as diferenças, extirpar o preconceito, acabar com a intolerância. Qual! O que eles querem mesmo é avacalhar com a cidade, sujar tudo, emporcalhar as ruas, fechar as vias de trânsito, causar transtornos inenarráveis, turbar a vida cotidiana da cidade (eles lacraram até a Paulista nessa última edição). Isso só reforça o que eles dizem não querer: a segregação, a afetação, a inconveniência. Quando entenderão que o correto não é respeitar uma pessoa porque ela não é heterossexual, mas sim respeitar os que não são heterossexuais porque eles são pessoas? O reacionarismo está nisso, nessa intrusão com ares de análise comportamental, social, sexual, científica, psicológica, o que seja. Não me interessa saber com quem as pessoas dormem e nem com quem elas acordam. O ideal no dia da parada seria ficar em casa e ver um filme de Pasolini, de Fassbinder, de Murnau, não porque eles eram homossexuais, mas porque eles eram ótimos cineastas, e é isso que interessa.

sábado, 12 de junho de 2010

A maldade

Às vezes eu fico curioso em saber de onde vem a maldade. E eu já descobri, pelo menos da maldade a que estou cotidianamente exposto: ela vem do pequeno poder.

Eu estou tendo aula este semestre com uma professora de fama nefasta, cuja diversão é aumentar o histórico de barbaridades imputadas a ela: essa senhora cada vez está mais intratável, indelicada, incoerente e outros "in" que eufemizam a real dimensão do problema.

A minha faculdade funciona com um sistema em que é preciso fechar o semestre com média 5,5 para ser aprovado. A primeira prova dessa simpática cidadã foi corrigida de uma maneira ímpar e sagaz, fazendo a média da sala girar em torno de 3,5, 4,0. Eu, como sempre me supero, fiquei com 3,0, apesar de ao final da prova acreditar (e seguir acreditando até hoje) que ficaria com 7,5, pelas respostas colocadas.

Portanto, precisava de 8,0 pontos na prova final dessa professora tão justa quanto didática. Estudei, li apontamentos, livros e meu caderno e leis. Na hora da prova, a surpresa (que não surpreendeu ninguém): matéria que ela não deu, pegadinhas mil, prova tão bem escrita quanto bem dada a aula da madama.

E hoje saiu minha nota: 4,0, a metade exata do que eu precisava; sendo que eu SABIA que pelo menos cinco pontos eu tinha garantidos, pois minhas respostas batiam com o gabarito. Mas como lógica é o que menos se deve esperar num lugar como o em que estudo, está aí o resultado.

E aí volto ao começo deste post: o pequeno poder. Essa comadre vive de ter orgasmos esporádicos reprovando alunos no último semestre da faculdade; não sabe dar uma aula minimamente decente, não é nem sombra de bonita, interessante ou agradável e obviamente sua vida não teria a menor graça se ela não passasse aos outros, em forma de vexação, humilhação e violência, um pouco dessa frustração que ela sente por ser um exemplo de fracasso. Chegar até o décimo e último semestre de um curso para uma dondoca rabugenta dessas achar que dita e desdita as regras do mundo é deprimente. E como ela não tem um real poder, não manda mais que em sua republiqueta de bananas imaginária, ei-la sendo perversa, cruel e má com quem nada pode fazer para defender-se: os alunos. O covarde age assim: esmagando quem não pode esboçar reação. E essa professora é ruim dessa maneira torpe: infernizando a vida de seus estudantes, pois sabe que nunca conseguiria atenção deles sem esse artifício malvado, porque não tem qualquer qualidade positiva que a destaque, nem qualquer capacidade ou talento de se fazer memorável através do simples desempenhar de suas funções. Sua existência consiste em tornar a dos outros um pouco mais difícil.

All she need is love, mas como pode ser amada se a maldade já deformou suas feições, olhares e ações?