segunda-feira, 2 de maio de 2011

Substituições

Após cerca de uma dezena de anos comprando e colecionando centenas de DVDs, agora o Blu Ray parece ter se instalado de vez. Vejo muita gente substituindo seus filmes, comprando as tais "ultimate editions", gastando um grande dinheiro e tempo em juntar Blu Rays de seus filmes favoritos, os mesmos que já se tinha em DVD.

A mim, isso não traz outra coisa que preguiça. Ao invés de me coçar para querer substituir tudo, essa febre teve efeito contrário: meu consumismo encontra-se moribundo, e quase não tenho vontade nenhuma de comprar mais nada nesse novo formato (e nem no anterior). Pelo menos não enquanto não acabar de ver todos os DVDs que tenho encalhados, ou enquanto os Blu Rays não baixam de preço, ou enquanto isso não tiver mais importância para mim.

Porque no final das contas essa cultura de substituição só mostra como tudo isso é dispensável. Assim como o VHS foi substituído pelo DVD, o DVD vem sendo recolhido pelo Blu Ray, e o Blu Ray daqui a poucos anos será trocado por outra mídia. Isso me cansa, essa necessidade de se atualizar em tão pouco tempo. Mais uma vez esbarro no velho conflito truffautniano do provisório versus o definitivo. E já sabemos quem costuma ganhar esse embate.

Também é sintomática a migração massiva do Orkut para o Facebook, e novamente em mim isso tem efeito diverso ao esperado: não quero mudar minhas fotos, trocar de "plataforma" ou construir outro perfil virtual; simplesmente canso e passo a usar essas redes com bem mais contenção. Daqui a um tempo, quem sabe eu não consiga uma vida real que faça minha vida virtual ser apenas um acessório extremamente fútil?

Isso serve para mostrar à minha geração a falência desse estilo de vida. No final das contas, crescemos e nos desligamos de tudo isso: arranjamos empregos, namoradas, responsabilidades e deixamos de lado o que achamos que era importante no computador, na internet, nas redes. Agora valorizamos mais estar com os amigos, sair ou fazer outras atividades, e todo o nosso compartilhamento virtual se resume agora a informações telegráficas ou piadas ligeiras. Acabou o entrosamento, o debate e a relevância de tudo isso. Muita internet serviu para nos mostrar que precisamos de menos internet. A invasão já foi muita, e agora nossa intimidade deseja privacidade. De novo, até outra coisa alterar isso, e outra coisa depois.

É melancólico constatar em históricos de MSN como mudamos, como as coisas deixam de ter importância e como tudo muda rápido: em um período de cerca de cinco anos, deixamos de falar com quem falávamos muito, não nos influenciamos mais tanto pelo gosto e opinião alheios, não queremos mais impressionar ou formar uma existência digna fora de nossa realidade física. Agora a internet é coisa de momento, como o era quando surgiu. O Blu Ray é assim também. E tanta tecnologia nos indica que não necessitamos dela. É uma contradição que se faz cada vez mais presente.

Acabamos voltando às velhas formas: com tanta modernização forçada e passageira, a melhor opção é pegar um livro, sentar-se e ler.

6 comentários:

  1. Como é possível interpretar esse encantador que a todo o momento aparece nas fantasias de D. Quixote

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  2. Que bonito o layout do blog!

    Perdi um baita comentário que estava escrevendo. :(

    Mas era basicamente concordando com tudo. Quando você encontra na vida o que estava procurando ou tentando cultivar aqui, você se cansa de tudo, começa a achar chato, perde a curiosidade e passa a ser o que realmente é ou que costumava ser.

    Estava recordando da minha 6ª série, quando eu ouvia e decorei um CD inteiro da Shakira com uma amiga minha e me sentia muito feliz com a música. E fico até hoje! Você aprende que não precisa ouvir música boa e apreciar todas as notas, saber se é original ou não só para sair comentando pela internet, e sim gostar dela. =p

    Você descobre também que ver um filme qualquer no cinema com o namorado (a) é muito mais gostoso que ver um filme obscuro sozinho no computador.

    Bom, fugi um pouco do assunto...

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  3. Não fugiu, não. No fundo, são as coisas que perderam a importância, e como fazer para reinventar o gosto que tínhamos quando descobrimos ou praticávamos essas atividades. Isso é conhecer a si mesmo, pois você tem que compreender o que é caro e indispensável a você.

    Que bom que gostou do layout! Eu raramente me orgulho das coisas que faço, mas esse novo visual também me agradou. :)

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  4. É foda, Filipe. Isso tudo o que você escreveu é uma grande verdade, tanto que nos últimos anos venho gastando mais dinheiro com livros do que com qualquer outra coisa. Esse fetiche por tecnologia (e substituição tecnológica) é de dar no saco de qualquer pessoa sensata.

    Tenho vontade de socar esses entusiastas do cinema 3D, seriously. Ô povo chato!

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  5. Terrível esse cinemeco 3D que anda saindo por aí...

    E eu também tenho comprado bem mais livros, já que não suporto ler coisas longas no computador. E revistas, e gibis.

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