domingo, 30 de maio de 2010

Globo

Uma das minhas maiores frustrações é nunca ter viajado ao exterior.

Verdade é que nem ao interior fui muito; mas eu queria tanto cruzar o oceano, respirar o ar dos outros continentes, pisar em solos totalmente alheios a minha cultura cotidiana... Só viajei através dos romances de Jules Verne e das páginas da National Geographic. Inúmeras razões me impediram de realizar esse até agora insatisfeito sonho, que quando mais jovem pensei em concretizar numa espécie de devaneio tintiniano: ter um amigo em cada país do mundo — tantas línguas, tantas diferenças...

Mas eu vou vivendo aqui nesta prisão urbana, tentando compensar essa lacuna no meu espírito com algumas distrações. Esta semana que acabou, por exemplo, me deixou felicíssimo no campo dos idiomas, esse passaporte ao mundo todo: eu fui em alguns eventos culturais e consegui entender, sem tradução de espécie alguma, os convidados falando em francês, espanhol e inglês, cada pessoa com um sotaque, uma maneira de falar, de pausar, de se comunicar. Isso me encheu de uma serena alegria, e aí percebi que como nunca pude ir ao mundo, o mundo veio em parte até mim: eu posso ler um romance em espanhol, ver um filme em francês e ouvir música em inglês e decifrar todas essas línguas, bênção das bênçãos.

Não sou o rei da fluência, mas nesses anos de espera (espero) antes de eu fazer o giro do planeta eu posso ir conhecendo um pouco de seus habitantes.

sábado, 29 de maio de 2010

Depressão

Não vou me estender falando o que acho de cada um desses lamentáveis capítulos na história da vergonha humana, apenas colocarei palavras chaves sobre os principais aspectos de cada problema:


> Seita - Loucura - Falta de amor próprio - Autismo voluntário - Insanidade - Desespero
* Verdade seja dita, pelo menos a tal Bruna, a menina no fim do vídeo, se portou com decência, apesar de não estar num evento muito digno.


> Vulgaridade - Exposição desnecessária da intimidade - Baixo nível - Valores esdrúxulos - Feminismo de butique - Sujeira

http://estilo.uol.com.br/album/sem_namorado_album.jhtm
> Avacalhação - Hipocrisia - Comércio - Pose - Idiotice - Descartabilidade de relacionamentos

Como diz a minha avó, "é cada uma, que dá dez".

P.S.: Descobri hoje que García Márquez roteirizou um filme protagonizado por Hector Bonilla!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pinga (e coça)

Nunca ingeri nenhuma bebida alcóolica. Não diretamente, pelo menos; talvez já tenha engolido algum refrescante bucal por engano num gargarejo. Mas o fato é que conscientemente o único álcool que botei na boca foi de dois tipos que quase nem contam: o da hóstia (que duvido que fosse de verdade) e o de várias balas de rum (que também duvido que fosse de verdade) que devo já ter comido em diferentes momentos da vida.

Não que não ingerir álcool faça de mim uma pessoa melhor (também não faz pior), é só que eu realmente não tenho nenhuma curiosidade ou interesse em beber. E por detestar a cultura dita boêmia, como já falei por aqui, me afasto disso tudo. Nunca saí em uma foto segurando um copo de cerveja junto a colegas de faculdade; nunca discuti sobre as melhores safras de vinho; nunca quis saber quais as diferenças entre uísques, conhaques e todas essas águas que passarinhos não bebem.

Não acho que seja motivo de orgulho, mas também não é para me envergonhar. Só sei que pensei uns tempos atrás sobre outra razão por que de fato nunca correrei atrás desses produtos: o vício.

O vício é uma praga incontrolável, porque sai de você e não há como controlá-lo. Essa idéia é terrível e assustadora. Novamente fui picado por formigas ou pernilongos esta semana, e o simples contato ou fricção com a pele dá uma vontade louca de coçar a região atacada: mesmo que eu não queira fazê-lo, a muito custo me contenho, dependendo do caso — por exemplo, se tenho que andar na rua e meu calcanhar havia sido palco (e prato) do banquete dos insetos.

Aí penso: se até uma coisa inofensiva dessas causa uma agonia por ser irresistível, o que será o vício em bebida?

Não sei. E não quero saber.

P.S.: O catolicismo da hóstia morreu no meu agnosticismo desconfiado...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Lápis

Acho que a vida mais se assemelha a um texto de Kafka que a uma crônica de Fernando Sabino, mas às vezes eu acho tudo tão engraçado e encantador quanto nesses pequenos relatos cotidianos. Por estes dias eu pude presenciar alguns acontecimentos e diálogos dignos dessa forma literária.

Primeira situação - Vendedor ambulante vendendo uma daquelas peças de desenho que consistem em encaixar um lápis ou caneta no apetrecho e rodopiar os traços, criando rabiscos variados e expressivos. O camelô comentava as vantagens do produto a um cliente em potencial:
— Isto aqui desenvolve a coordenação motora da criança!

Segunda situação - O mesmo vendedor, outro dia, também elogiando o produto:
— É para criança e para adulto; na verdade, isto é mesmo uma terapia!

Terceira situação - Mãe e filha na rua, a filha (pequena) provavelmente havia entrado em um curso de inglês ou estava tendo aulas do idioma na escola. A menina pede para a mãe adivinhar o que é "pencil". Resposta da mãe:
— Hum, pênsil?... Pensar?

domingo, 16 de maio de 2010

Os meus mortos

A única coisa certa na vida é que todos morrerão (até alguns morrem antes de nascer). Mas não há nada mais desabonador do que ver seus parceiros, amigos, conhecidos, gente próxima morrendo. Hoje me senti assim quando recebi a inesperada notícia da morte de um velho ídolo meu, Ronnie James Dio. OK, ele estava com câncer, mas a notícia de sua doença havia sido divulgada há tão pouco tempo que eu não pensava que levariam o duende do rock com tanta rapidez.

Dio foi um dos nomes mais importantes da minha rockfilia; por volta de 2004/2005 eu, após um ano ouvindo só Led Zeppelin, passei para a minha segunda banda favorita, Deep Purple — e como eu sou compulsivo, eu procuro TUDO (discos de estúdio, singles, bootlegs etc.), inclusive as árvores genealógicas das bandas e artistas que admiro; o Rainbow era uma conseqüência natural, portanto, porque era a banda fundada pelo gênio Ritchie Blackmore quando deixou o Purple no meio da década de 1970. E Dio foi o primeiro e talvez melhor vocalista da banda. Só sei que o álbum Rising, dessa formação com Dio nos vocais, foi um choque absurdo. Eu passava dias ouvindo e reouvindo o disco exaustivamente, desbravando cada nota, cada acorde, cada solo, cada ruído e chiado. Ainda hoje é um dos meus álbuns favoritos, e claro que fiquei maluco com a banda, passei a ouvir (e ainda ouço) tudo que posso. E por essa época acabei pegando outros projetos e obras com a participação do Dio, como o não menos sensacional Heaven and hell, o primeiro disco do Black Sabbath sem o Ozzy.

Esses dois álbuns com o Dio de vocal foram absurdamente importantes para a minha vida. E é por isso que fiquei chateado com a notícia da morte dessa grande voz, esse mestre de vitalidade e talento, que deixa o palco no meio ainda de uma performance que não parecia querer acabar assim, de repente.

Mas o que homens assim fazem fica para sempre, e eles se tornam imortais e nunca abandonam a gente. Este é um exemplo entre mil:

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Fato

Solidão é minha única companheira (anotem essa frase, se ela já não foi usada podem patenteá-la para o ramo da caminhonaria).

Eu sempre fui, a despeito de tudo, um sujeito esperançoso e otimista (apesar de todos sempre pensarem o contrário); mas acabei percebendo que certas coisas não mudam nunca, e minha solidão é uma delas. Eu me sinto muito sozinho, muito mesmo. Não tenho amigos, não tenho namorada, às vezes penso que ninguém mesmo se importa comigo (nem eu, às vezes). Apesar de eu ter criado uma certa "couraça" contra os efeitos desse mal, por já tê-lo junto a mim há tantos anos e já meio que tendo me acostumado, nunca se pode falar que dá para não ligar para a solidão. Quando a solidão se instala, é como se tudo que você planejou para zombar dela virasse pó e a sua vida de repente perdesse o segredo da dúvida e se afirmasse inquestionavelmente como uma grande idiotice, sem retorno.

Já cansei de ter esperança, sei que no final das contas um trilhão de fatores concorrem para sempre me deixar vagando por aí à procura de oportunidades que nunca ocorrerão.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Tubaína

Ontem saiu a nova Zingu!. Eu sempre gostei dessa revista, e colaboro mensalmente (sem interrupções) desde janeiro de 2007 — portanto, quase três anos e meio; verdade é que muitas vezes pensei e penso em parar, porque não há público para o que escrevo. OK, sei que escrevo mal, mas vivo falando que escrever isso só para mim não dá pé; este diário mesmo eu comecei só para mim e hoje tenho felizmente alguns leitores com espírito altruísta, verdadeiros bons samaritanos virtuais, que se dedicam a comentar algumas das pataquadas que publico (o que é muito bom).

Mas enfim. Meus textos nessa última edição são sobre Sandrine Bonnaire e minha costumeira mania de importância. Essa edição traz ainda dossiês sobre a Vera Cruz e sobre o Luís Sérgio "Pelsão" (como diz o Mojica) — é uma pena que eu não sabia (ou me esqueci?) que esse material sairia, porque eu bem que gostaria de ter colaborado com pelo menos um texto sobre um filme de cada um. Fica para outra encarnação.

P.S.: O texto da Sandrine foi sem dúvida o mais trabalhoso que já fiz para a revista; fiz uma maratona intensa com os filmes que me faltavam ver da moça.

P.S. 2: Um dos primeiros lemas da Zingu! é ser contra a escrita estilo Cahiers du cinéma, mas eu sempre quero escrever como François Truffaut.

P.S. 3: Finalmente voltou o frio! Que fique.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Roda

Impressionante como moda pega.

Hoje, no sempre útil portal da Globo, me deparei com esta beleza. Não sei quem foi o doente que instituiu oficialmente mulheres grávidas como algo sexualmente atraente (?), ou minimamente bonito plasticamente. Olha, eu devo ter muitas perversões, mas essa com certeza não está na relação. Vamos dizer a verdade: é horrível. E mesmo se não fosse, é chato todo mundo fazer igual. Por que as esposinhas-modelo não ficam bonitinhas gravidinhas comportadinhas em suas casinhas à espera de seu rebento? Não, elas tem que mostrar nuas a barriga inchada, como símbolo de poder e rebeldia (seja diferente dos outros fazendo o mesmo que todo mundo). Claudia Schiffer, Demi Moore, Monica Bellucci, Fernanda Lima, Danielle Winits, Daniella Sarahyba, Christina Aguilera, Ticiane Pinheiro e sei lá mais quantas dondocas já posaram desse jeito para as lentes de fotógrafos desocupados. Parem com isso enquanto é tempo, Leilas Dinizes de araque.

Outra moda bastante repelente é do álbum da Copa. Entendo que possa ser um bibelô atraente para os fãs de futebol, ou até para colecionadores de figurinhas (espécie que perigava de entrar em extinção), mas de repente todo mundo passou a gostar DAS DUAS COISAS! Vejo meninas de dez anos trocando figurinhas de jogadores e nerds fãs de ficção científica comprando álbuns e pacotinhos de cromos. Ah, qual é? Por favor, né. Que diabo de coisa horrível, dá até agonia, o povo compra tudo que: a) a mídia empurra; b) os amigos consomem. Quanta dificuldade em ficar de fora da turma...

sábado, 8 de maio de 2010

Jaula quase aberta

Desde 2005, quando entrei na faculdade, tive problemas com a instituição. À parte seu abominável corpo docente e outros problemas tão lamentáveis quanto, esbarrei em burocracias estúpidas, alguns atendentes mal treinados (e mal educados), incoerência em tudo, critério em nada. Então eu tomei a mesma decisão que tomei com relação à política, algo que, como eu já disse em um post anterior, não me alcança e não me representa: agora eu simplesmente me ausento dos assuntos da faculdade. Não pertenço a lá, não quero saber de nada relacionado.

Desde o começo da faculdade eu não fui a festas, encontros, palestras não obrigatórias, eventos, não freqüento salas de estudo, dificilmente vou à biblioteca, não faço nada disso; mas ainda fui além e não dei um centavo à comissão de formatura (não quero oficializar com fingida alegria o fim de um tormento), não votei para escolher os professores que deverão ser homenageados no fim do curso (exceto numa fase posterior, com candidatos já selecionados de maneira pavorosa, em que votei para impedir que certos crápulas acabassem levando a distinção [deu certo em parte]), não falo a ninguém que estudo lá, só apresento a carteirinha da faculdade para ter desconto em cinemas e shows.

Eu não sou de lá, eu quero que minha passagem por esse local seja considerada uma curiosidade em minha biografia (e não um capítulo importante), eu não quero propagar e de certa maneira aclamar o nome de um lugar que para mim é sinônimo de sofrimento e desgaste.

E obviamente eu não vou em formatura nenhuma. O único aqui de casa que não cedeu à vontade dos pais de ver seu filho na festa, com smoking, a tradicional foto e mais tudo de praxe. Não bebo, não fumo, não me drogo, não tenho amigos lá, detesto os professores, não conheço os funcionários, odeio festas, sinto sono à noite, não gosto de ir para longe de casa muito tarde, não tenho o que fazer lá; e ainda economizei um baita dinheiro.

Eu não me quero associado àquele antro.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Donzelices

Eu ia fazer considerações algo negativas sobre envelhecer e sobre meus inúteis — pelo menos até agora — vinte e três anos neste vale de lágrimas, completados hoje; mas como sempre prefiro falar mal dos problemas dos outros, mudei de assunto.

Umas semanas atrás coloquei um vídeo sobre uma atrizinha reclamando da revista Playboy, confirmando que não sabe do que ela trata e resumindo a publicação a pornografia. Eu não sei porque o sexo, mesmo tão vulgarizado, é tão ridiculamente entendido e comentado. Eu digo isso após ler esta notícia.

Quanta patetice! Os progressistazinhos querem diminuir a maioridade penal e trancafiar em escolas do crime adolescentes que mal saíram dos cueiros e reclamam de uma moça emancipada de dezesseis anos que mostra um seio (UM seio) em uma peça de teatro? Procurar o que fazer que é bom, não? A argumentação é pior ainda que o chilique. Pedofilia? Ora essa, a menina não vai ser abusada e disso não virá qualquer trauma, discutir algo assim chega a ser quase ofensivo: alguém teria pensado em algo assim caso os revoltados defensores da moralidade não tivessem esbravejado tão veementemente? O pior é isso: serviu para divulgar o espetáculo, que eu nunca tinha ouvido mais gordo.

A moça que ilustra este blogue, Sandrine Bonnaire, apareceu inteiramente nua, aos quinze anos, em Aos nossos amores, do mestre Maurice Pialat; por sorte os franceses não têm esse código puritano esdrúxulo da nossa pátria tupiniquim, ou uma das maiores interpretações femininas do cinema seria engavetada pelos impávidos heróis que estão querendo mutilar a tal peça (ou até proibir sua exibição). Ao que eu saiba, aparecer desnuda em seus anos de adolescência não trouxe qualquer tipo de problema psicológico a Sandrine Bonnaire, ao contrário, daí por diante ela foi cada vez mais se firmando como uma das melhores atrizes da história do cinema francês. Mas qual! Ela aparece sem roupa antes dos dezoito, crime abominável!

Nunca vi maior disparate. Se não há exploração ou qualquer tipo de constrangimento ou ameaça, qual o problema da tal garota mostrar o seio ou o que quer que seja? Estamos virando abomináveis cultores da irracional politicagem do correto.

Quero ver agora mandarem ao Ministério Público o primeiro filme do Menino Maluquinho, em que o protagonista, uma CRIANÇA, aparece em nudez frontal — sendo que a cena foi incluída no filme com o torpe propósito de mostrar o personagem... tomando banho! Pode mostrar não, meu sinhô. Melhor deixar a criança suja que mostrar nudez de menor.

Essa moça da peça comprova o que eu disse posts atrás: as meninas de dezesseis têm um pensamento mais maduro que os guardiães de suas decências.