segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ciúme - O inferno do amor possessivo

Uma das minhas piores qualidades é o meu ciúme. Essa é uma dimensão incontrolável da minha personalidade, e eu tento domá-la com sua pura constatação; nem sempre consigo, contudo.

Não tenho muitos amigos, não tenho namorada e não tenho muito em que me firmar ou de que me orgulhar. Portanto, me resta o material. Tenho ciúme das coisas físicas, dos meus objetos. São eles a minha História.

A coisa se verifica geralmente com meus irmãos. Desde há muitos anos, eles nunca demonstraram interesse pelas coisas de que eu gostava, que importavam a mim e das quais necessitava, no sentido que seja. Nunca quiseram saber o que eu lia, o que me tocava, de que tendências eu me preenchia. E hoje eles têm consumido algumas coisas que sempre foram caras a mim. Minha irmã, por influência do namorado, vê filmes que sempre indiquei ou vi e para os quais ela não ligava a menor relevância, não queria me ouvir falar sobre, não podia se importar menos; meu irmão, por influência talvez de amigos ou de certas mídias, outro dia comprou um livro de um personagem que leio desde que estava na escola, e também para o qual ele nunca consagrou qualquer atenção.

Essas coisas todas, sejam elas discos, livros, filmes, quadrinhos ou o que for, eu as tinha como MINHAS, são minhas amigas, meus pertences. Eu não tenho amizades e não construí qualquer coisa na vida, então o que me define são elas, as coisas, que moldaram meu caráter e transformaram meu gosto, minhas percepções e sentidos.

Então quando vejo o interesse dos meus irmãos, por exemplo, eu me sinto um pouco incomodado, quase atacado. Como se tirassem parte da minha individualidade. Eles aproveitam tudo isso independentemente de mim, talvez até APESAR de mim. Claro, não posso e não vou impedi-los de consumirem bons produtos do que quer que seja, mas reservo a mim o duvidoso direito de me ressentir com isso. De ver que a minha História, afinal, não é minha, essas coisas não dizem mais a mim do que dizem a eles, quem sabe?, e eu tenho que procurar agora, assim à força, seguir um caminho próprio, livre de interferências, onde sentimentos ruins como o ciúme não façam parte de mim.

É difícil, muito difícil. Ver alguém que viveu a vida toda junto a você e não te conhece para saber como é meio um tanto um pouco desagradável comprar aquele livro que você tem desde pequeno, ou aquele álbum que foi seu favorito da adolescência, só agora descobrem tudo isso e você se sente traído por essas mesmas coisas que foram seu único amparo durante não sei quanto tempo. Deve ser por coisas assim que os monges se desprendem de tudo. Coisas materiais representam lembranças, eventos, condições.

No mais, isso tudo deve ser falta de namorada mesmo.

11 comentários:

  1. compartilho com você dessa chaga!

    tinha escrito um texto gigante aqui, mas nem enviei ó. então isso é o de mais sucinto que eu possa te dizer.

    talvez uma das coisas que mais me irritem nessa situação é que as pessoas não tem a mínima noção do quão efervescente você fica em reação ao "roubo", como se estivessem te matando aos poucos sem saber e ficam lá, com cara de paisagem.

    claro que não é um bom sentimento nem as pessoas deveriam viver em função dele. como você falou, não dá pra privar os outros. mas também não dá pra ser hipocrita e dizer 'que feio, filipe, você não deveria se sentir assim'. aham, super fácil.

    e pense que as coisas poderiam até piorar: imagine que você se interessa muito, gosta muito e sabe muito de algo. aí, exemplo, teu irmão começa a gostar - de maneira rasteira - disso e DO NADA surgem milhoes de pessoas o apontando como um expoente sábio de tal assunto. e você pensa "mas eu estive aqui o tempo todo, e cadêêêê?"

    :C

    (sim, o texto tinha ficado bem maior haha)

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  2. Eu ressalto que o problema, como já dito, é exclusivamente meu; as pessoas estão mais do que certas em procurar as coisas que agradam a elas. Mas eu me sinto como se o meu melhor amigo da infância tivesse conhecido um irmão ou outro amigo meu, com quem não tinha contato, e de repente ficaram também "melhores amigos". É meio egoísta isso tudo, mas eu não consigo evitar ficar assim...

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  3. O problema (se posso chamar assim) central, creia, está no seu apego, diria, sem querer ofender, as coisas materiais, tente se despreender um pouco delas e dar mais atenção às pessoas do que aos objetos, já lhe passou pela mente que talvez por isso nunca lhe pediram aquele album ou aquela revista, etc......

    Quanto a amigos você não vai acumular, estou falando de verdadeiros amigos, mais do que cinco durante a sua vida. Então tá normal.

    Quanto à namorada, o pilar de um bom relacionamento é a renúncia e cumplicidade de ambas as partes, sem isto. Continue sem.

    Abraços.

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  4. Sim, eu sou consideravelmente materialista. Mas pelo menos percebo e reconheço isso, já é um minúsculo passo em direção à mudança, creio.

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  5. Parece que você tem ciúme das pessoas se influenciarem por outros e não por você. O 3º parágrafo deixa isso bem claro.

    Você será EXTREMAMENTE ciumento se tiver uma namorada.

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  6. Acho que não. Namorada tem que ser amiga também. Eu não teria muito ciúme, até porque não entraria num relacionamento sem confiança.

    Mas não é ciúmes de se influenciarem por outros, Suelen. É mais isso que falei do amigo de infância: eu sinto as coisas como minhas, partes da minha identidade e formação.

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  7. A gente sempre pensa isso antes de namorar. Não existe 100% de confiança em nenhum relacionamento.

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  8. Pode ser mesmo, mas infelizmente estou sem qualquer perspectiva de namoro...

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  9. Sai dessa bolha mermão! Vai viver a vida, fazer coisas inusitadas, fugir da rotina.

    Não estou falando pra você pular de bungee jump ou algo do gênero, mas se arriscar nas pequenas coisas em que você pensa muito antes de fazer ou não fazer.

    Chuta o balde!

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  10. Hahahaha, claro! Eu aos poucos vou tentando mudar...

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