quarta-feira, 1 de junho de 2011

Malhação

Saiu há poucos dias na mídia a notícia de certos policiais que dançaram o hino nacional "à la mode" funk carioca. Choveram comentários de repúdio, consternação e pasmo. À parte uma meio inquestionável boçalidade dos policiais, o que eu vi foi, da parte dos espectadores tardios do episódio, uma pavorosa demonstração de apego a valores que já deveriam estar sepultados há décadas. Vi comentários na base do "é um absurdo, é um símbolo brasileiro", "é criminoso, não se deve nem cruzar os braços durante o hino" e "que belos policiais temos no Brasil!". Sim, mas vou além: que belo país temos no Brasil!

A obrigatoriedade de se emocionar com hinos que só dizem respeito a projetos militares e páginas negras da nossa História (eleições e solenidades burocráticas, por exemplo) é um sinal de atraso e portanto uma vergonha. Essa mentalidade condicionada, de que hino é respeito, se atrela a outras vulgaridades, como as noções sempre estapafúrdias de pátria, nação, terra e respeito. Hino é um símbolo de medo, pois não se pode tocá-lo com mãos profanas, temor religioso de desrespeitar seu solo. O solo de um país é desrespeitado pelas maldades que nele se cometem, e não por desapego à "memorabilia" cívica, esperando estar naqueles segundos de cantoria decorada prestando um grande serviço à consolidação de nossa identidade.

Eu não me identifico com nada disso. Gosto da nossa bandeira e do nosso hino, mas como curiosidades e adereços, e não gostaria de ver assolar o Brasil uma onda como a do ufanismo absurdo que contaminou toda a percepção universal de certa parcela do pessoal dos Estados Unidos, por exemplo.

Acho que aqui se está longe disso, mas não custa nada dar o meu malho nesse Judas do egocentrismo nacional.

2 comentários:

  1. concordo muito.

    e pra reafirmar, cito o trecho de um escritor aí...

    "Eu não posso ter orgulho de algo que nasceu comigo, esse orgulho de quem chora com bandeira, com selo, com hino. Nascer aqui, ter o cabelo assim, como posso ter orgulho de algo sobre o quê não tive a menor influência?"

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  2. Concordo, mas isso aí parece os textos que eu escrevia na adolescência!

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