sábado, 27 de março de 2010

Beba-me

Poucas coisas me irritam mais que a cultura "boêmia" universitária.

Gente que ri contando casos de "porres", que diz que "quem não bebe não tem história", que no final de semana tem vontade de arrancar dois ou três órgãos internos para alojar dentro de si a maior quantidade possível de álcool, que diz que a cerveja é seu único amor, que se diverte contando histórias lastimáveis ocorridas em bares, botecos e baladas, que nos álbuns virtuais só possui foto de confraternizações regadas a bebida e com a participação de bêbados desinibidos, metidos a engraçados e expansivos. Gente que adota esse beber como um estilo de vida.

Acho tudo isso pavoroso, terrível, deprimente. Tenho vontade de morrer quando ouço meus colegas de sala comentando piadas envolvendo marcas de cerveja que tomaram, tipos de bebida, amigos seus que vomitaram as tripas na sua frente, que beberam imoderadamente e foram parar no hospital; tem gente que acha isso engraçado (ou talvez estejam tão ébrios que nem sequer se dão conta dos absurdos grotescos que narram).

Não é por nunca ter ingerido um copo de bebida alcoólica na vida que eu digo isso; se o tivesse feito, ainda acharia esse tipo de procedimento o cúmulo da idiotice. Essa cultura de querer se igualar aos outros bebendo, de fazer amigos bebendo e de adorar viver bebendo equivale a uma sutil prostituição, perda de suas idéias e vontades ao aceitar manter e legar essa tradição estúpida de perder freios inibitórios com algo que nem criança de colo hoje em dia acha "transgressor". Uma imbecilidade ímpar que leva a um comportamento repulsivo de indiscrição e boçalidade.

Pelo menos isso serviu para eu concluir quem são os autores das descabidas afirmações de que "a faculdade são os melhores anos da vida": ora essa, quem senão os universitários bêbados mauricinhos que vão com seus caríssimos óculos escuros na aula disfarçar as olheiras da ressaca? Aqueles mesmos que cansam do álcool depois de um tempo e vão para as heavy drugs barbarizar na náite com seus narizes quase descolando depois de tanto pó cheirado. Aqueles mesmos que se dizem marxistas a favor da reforma agrária pela manhã, de tarde, doidões, incendeiam mendigos e à noite vão à porta dos acusados de crimes de repercussão nacional para clamar ante às câmeras de televisão por "JUSTIFFA!!!" e dizerem, compungidos, que esse descaso das autoridades deve acabar.

Para esse pessoal, a faculdade ensinou muita coisa.

8 comentários:

  1. Oi, Filipe! Só vim dizer que vez por outra passo por aqui e que seus textos me agradam muito. Identifico-me em alguns. Parabéns pela escrita! Um abraço.

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  2. Puxa, que elogio inesperado! Se me tivesse sido mandado ontem, não acreditaria! Muito obrigado!

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  3. hahaha. Mas por que ontem, Filipe?

    Mas sério, andei até falando sobre teu blog com minha namorada. Tem coisas nele, por exemplo neste post, que ela e eu concordamos plenamente. É uma nova espécie de estar integrado no meio, essa de beber e de se vangloriar deste fracasso da perda de controle. Nos tempos de escola (meu ensino médio foi uma merda total, ao contrário do fundamental, uma diversão infinita) tive muitos problemas por, como você disse, nunca ter colocado nenhuma gosta de álcool na boca.

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  4. Porque ontem foi primeiro de abril, o dia da mentira! Mas, caramba, muito legal saber que meu blog anda sendo comentado "por fora" também!

    Esse problema do álcool é mais psicológico que social, acho; enquanto propagarem rindo essa cultura de "não fiz amigos bebendo leite" esse tipo de afirmação continuará existindo, nunca questionada, algo como a máxima de um rito de iniciação, uma etapa necessária no processo de transição de idades. Eu simplesmente acho cretino, e não compactuo simplesmente porque não quero.

    P.S.: Não vou elogiar seu blog de cinema, Ranieri, porque certamente pareceria uma visita de cortesia após você ter elogiado o meu; mas saiba que admiro muito esses textos que fogem da tradição "receita de bolo" que impera na crítica cinematográfica brasileira.

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  5. http://www.youtube.com/watch?v=EyR7CFxSJso&aia=true

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  6. É bem isso, Salomão. Tem gente que acha isso o ó do borogodó, eu só acho mongolóide mesmo.

    Não sei se ele está no MKO, Suelen, mas deve estar, ele é cinéfilo.

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  7. Também concordo que é bem mongolóide, mas não custa lembrar que a música é uma crítica.

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