segunda-feira, 15 de março de 2010

Ontem, hoje (e amanhã?)

Tenho horror aos "donos da verdade".

Ontem fui num show no SESC do lado aqui de casa, e como havia saído sem nada para ler, peguei a revista que eles fazem e fui ver o que tinha de bom; havia uma entrevista com uma professora universitária de literatura — uma mulher aterrorizante, com certeza uma das pessoas com mais genuína cara de maldade que eu já vi —, e lá ela falava coisas como: "eu leio a alta (sic) literatura. Como entendo de Proust e Guimarães Rosa, tenho um parâmetro para saber o que é bom ou não". Meu Deus. Já não bastasse a cretinice de separar a literatura por níveis, ainda esse esnobismo repulsivo de achar seu gosto superior ao dos outros, de acreditar estar certo no meio dos errados. Uma coisa tão ridícula que nem me darei o trabalho de pesquisar o nome dessa cidadã, para não cobri-la de vergonha associando-a a uma abobrinha tão grande. Na mesma entrevista, aliás, outra pérola: a tal especialista e crítica literária disse que não existe como fazer grandes obras literárias em curto espaço de tempo, em nenhuma hipótese; que um grande escritor deve demorar pelo menos dois anos para parir uma obra-prima, pois essa é a "vazão" (sic) da literatura de qualidade. Acho que ela andou lendo tanto Proust que esqueceu-se de seus colegas Balzac, Verne, Simenon, admiráveis criadores de um universo magnífico de obras publicadas e escritas às dezenas, centenas de títulos.

Hoje eu vi na Globo a Fátima Bernardes enchendo a boca para cuspir agressiva que o ASSSASSINO (sic) de Glauco fora capturado, e que a Globo obteve a confissão (!) do sujeito. Se já é repulsivo essa imprensa mexeriqueira disfarçada de policial destruindo vestígios, pisando onde não devia (literal e não literalmente), concluindo o que não se deve, o que dizer do procedimento estapafúrdio dessa bisonha emissora de televisão? Primeiro, quem a autorizou a chamar um ACUSADO de homicídio de "assassino", já o condenando por leves e contraditórios indícios? Quem permitiu que ela veiculasse o crime como efetivamente praticado pelo tal cidadão, divulgasse seu nome, seus dados, sua foto? Se é verdade que outras emissoras também fizeram isso, não é menos verdade que a Globo conseguiu superar sua própria torpeza ao se aproveitar de um desgraçado encharcado de droga para sambar por cima da carne seca: uma repórter perguntou, com o maior caradurismo (grande Lobato) possível, se o detido havia realmente matado Glauco e seu filho — e qual foi a resposta?: um aceno positivo com a cabeça. E aí está a bela confissão da Rede Globo, uma prova cabal para qualquer condenação, um juízo embasado na perícia minuciosa do caso.

O engraçado é que esses pré-julgamentos, essas opiniões generalizadoras, essa falta de cuidado no se expressar e de pudor no acusar, são comportamentos para os quais as pessoas não ligam a menor importância. Até o dia em que forem vítimas dessa cafajestagem. E isso sim é bem verdade.

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