segunda-feira, 12 de abril de 2010

Falta algo

Há algumas semanas venho me sentindo de uma maneira que não sei explicar; parece uma permanente sensação de déjà vu, como se eu fosse eu mesmo no meu corpo de anos atrás, cabeça mais jovem mas com as mesmas lembranças e pensamentos de hoje. Como se eu me sentisse transportado para algum tempo atrás, sentindo falta de algo que deve ter ficado. Talvez seja o clima cinzento (que a tudo deixa mais bonito), o eminente fim das abomináveis aulas universitárias (e daí a sensação que senti cinco anos atrás, quando estava para entrar nesse buraco), ou alguma outra coisa que eu não sei bem o que é mas que me deixa de um jeito esquisito, como numa expectativa e numa frustração sempre; sei que com certeza já senti isso antes, mas não sei o que possa ser. O mais provável é mesmo saudosismo, porque é mais uma época da minha vida que se vai, com esses cinco anos passados a ferro, fogo e dissabores na horripilante universidade que freqüento; quando pego um livro (de ficção, naturalmente) e sinto seu cheiro ao folhear as páginas (um passatempo sem o qual não consigo viver, e uma das razões por que detesto livros virtuais), imagino-me em outro período, já concluído ou não, de minha vida — meu olfato bate fundo nas memórias que acumulei ao longo da vida, como se para cada coisa importante que me aconteceu eu tivesse um odor que acionasse recordações, um cheiro que dissesse respeito particularmente a um momento da minha existência. O que estou sentido, pode muito bem ser isso. Mas não confio. Parece algo bem mais irracional e forte que um ataque de saudosite...

4 comentários:

  1. "meu olfato bate fundo nas memórias que acumulei ao longo da vida"

    Às vezes você me assusta com frases que poderiam ser minhas! Mas acho que essa sensação seja normal, embora nunca tenha falado com ninguém sobre.
    Logo quando me recordo de alguma coisa, o cheiro do lugar é o que penso primeiro. Senti muito isso na volta às aulas: voltando aos minutos contados, àquela rotina que me aborrecia mas me agradava, fazendo as mesmas coisas, os mesmos gestos, os mesmos perfumes, os mesmos rostos, sentindo sempre muito sono e com uma enorme vontade de ir embora (por isso lia/leio tanto nas aulas).

    A verdade é que me prendo muito em uma rotina e me desagrada um bocado ter que mudar, por mais ínfimas que sejam as mudanças (assim os cheiros, o clima, algumas músicas e alguns livros sempre me levam de volta, em sua grande maioria para memórias banais e repetitivas, não importando se cinco anos atrás ou dois dias; acho que estou sempre dando voltas sem sair do mesmo lugar).

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  2. Isso é mais ou menos o mesmo que eu disse no post sobre músicas, esse tipo de recordatório; o fato é que me impressionei quando senti o cheiro das páginas de um livro há uns meses, o mesmo odor de um livro de História que eu usei na sétima e na oitava séries (meus anos mais felizes, 2000 e 2001), e quando senti o aroma eu identifiquei imediatamente a textura das páginas e me lembrei de como eu lia o livro de História, sua fonte, seu tipo de diagramação, o que eu fazia na época, como eram as aulas... Entrei praticamente em êxtase, e isso deve ser bem comum para muita gente, mas também não sei de muitos casos entre pessoas com que convivo. Na verdade, meu olfato é fraco e mal treinado, mas quando dá para se impôr (tem acento?)...

    E você está descrevendo como eu me sinto na volta às aulas... E também não gosto de mudanças acentuadas.

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  3. Desculpa a indiscrição, mas eu fiquei curiosa para saber porque esses dois anos foram tão bons para você. :)

    Eu sei como é. Esses casos mais únicos tem um tom até mágico, porque é inacreditável quando relembramos e a surpresa acaba sendo enorme. Diferente de algo já conhecido e familiar, o que também não deixa de ter seu encanto... O perfume que a minha mãe usa, por exemplo, é como se fosse o seu cabelo ou o nariz. Sinto o mesmo perfume desde que me recordo de frangrâncias, mas ele chega a desagradar meu nariz por ser forte demais (culpa da rinite). E mesmo assim me causa lembranças reconfortantes: minha cabeça encostada no color dela (quando ela ainda era maior), onde o perfume mais marcava na pele. Quando eu ficava doente essa cena sempre acontecia... não gostava do perfume mas me sentia em uma calma plena, agradecendo por estar ali sentindo aquele cheiro.

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  4. Hehehe, um amigo me perguntou a mesmíssima coisa ontem. Acho que escreverei um post aqui, não vai ser mais útil que todos os outros que já escrevi.

    Sim, as sensações de "acalanto"! Mas não só com cheiros, até com texturas, a maciez de uma roupa, o arrepio do veludo em outra, associar tudo isso a cores, até nomes às vezes me despertam lembranças quase físicas.

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