quinta-feira, 29 de abril de 2010

Julgue um livro pela capa

Eis-me andando hoje e numa biblioteca de estação de metrô mais uma vez paro embasbacado com a incrível beleza desta capa:

As pernas nuas da moça na capa, o ângulo de inclinação de uma perna comparada à outra, a beleza das cores (o branco quase pálido da pele, o rosa da camisola, os verdes de diferentes tons que existem no colchão e na parede), o quadro com o nu disposto logo acima... E nem mesmo a marca da calcinha é de mau gosto como os "brega-detectors" adoram apontar: a roupa íntima da garota se encontra marcada mas não aparece o menor vestígio dela que não sob a camisola, o que dá uma idéia muito bonita de peso, leveza, contraste — até com a região descoberta da coxa. E o que dizer da posição em que a moça se encontra? Parece que ela está lendo, o que é mais sugestivo e bonito ainda. Enfim, uma capa perfeita, lindíssima. Tenho vontade de comprar esse livro sempre que o vejo, mas eu sou besta e quero ler Vargas Llosa em espanhol.

Mas na verdade este post é dedicado à minha decepção com as capas atualmente publicadas, sem distinção de gênero ou editora; são capas mortas, feias, padronizadas, de um gosto pavoroso. Vou colocar alguns exemplos de capas pavorosas (geralmente elas têm tons de preto, alguns brilhinhos ridículos, fontes "engraçadinhas", relevo, informações sobre números de venda etc.):

- Capa horrenda, tipo de letra absurdamente ridículo, cheio de constrangedores chamarizes (essa palavra existe?), frases de efeito, o contraste fácil entre o branco e o preto, a imagem ultraclichê de um botão de rosa, tudo um desastre total. Seria uma concorrente de peso para o posto de pior capa do ano, mas ela é tão parecida com inúmeras outras que a competição seria inútil. Mas esta ainda tem o adicional de colocar um aviso chamando crepusculetes para lerem uma obra consagrada há mais de cento e cinqüenta anos, o que é estapafúrdio e polui ainda mais essa capa nefasta.


- Não falei? Um trilhão de capas feitas da mesma maneira bisonha. Compre uma, compre todas. Costuma ocorrer o mesmo com esses livros, inclusive.


- A clássica desonestidade das editoras que consiste em lançar um livro com uma capa que remeta a uma adaptação cinematográfica que fizeram da obra; quase sempre fica horrível. E me irrita muito quando é uma imagem de um filme que desprezo, como se eu tivesse que necessariamente gostar da mesma maneira do livro e do filme.


- Eles continuam sem saber fazer capas. Parece capa de trabalho de escola, não me admiraria se me contassem que a imagem foi tirada do ClipArt.


- Informação demais. Mensagens edificantes. Fotos "de paz". Acho que podemos falar que virtualmente todas as capas de livros de auto-ajuda são tenebrosas.

Eu gosto muito das capas de literatura brasileira décadas atrás. Geralmente eram apenas desenhadas, e engenhosas, curiosas, belíssimas. Não empobreciam o livro e nem envergonhariam o leitor apanhado por acaso no metrô ou no ônibus. A seguir alguns exemplos:

- Desperta uma certa ternura pela delicada imagem feminina retrada, apreensão por sua aparente tristeza, além de ser de uma singeleza extraordinária e marcante.


- Impressiona pela "rudeza", pelo aspecto primitivo e artesanal, coisa cada vez mais rara nesse ramo hoje em dia; eu tenho essa edição e as ilustrações internas do Poty também são muito sugestivas e impactantes, algo que só vemos agora em quadros de arte naïf (e em literatura de cordel).


- Capa interessante e muito engraçada, já dando o tom das crônicas e contos que o Sabino escreveu. É limpa e chamativa, um exemplo brilhante de comunicação eficaz.


- Cria suspense, não só pela chamada acerca da "maior reinação do mundo", mas pelo inusitado da situação, Emília vestida apenas com uma saia esquisita (que depois descobriríamos ser de algodão), criança nua chorando, animais... O que se passa aqui é aquela sensação de curiosidade, que remete a um inevitável: "O que aconteceu?!".

Não me envergonho de falar: a capa pode me despertar o interesse por um livro, mas o contrário é o que ocorre cada vez com mais freqüência.

11 comentários:

  1. A Alfaguara tem a minha capa favorita:

    http://2.bp.blogspot.com/_XpSNhQoFaLQ/Sw8q-xnVgSI/AAAAAAAAAYk/dhe9Ze-7frQ/s320/CORREIO_DO_TEMPO__1237253038P.jpg

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  2. Você é meio chato, às vezes...
    Mas acho que eu te amo.

    Desculpa.

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  3. Acho que eu não sei quem você é. Desculpa.

    Yasmin, esse livro é bonito como a capa?

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  4. Olha, é um livro de contos e quase todos são "mornos". Infelizmente a capa é mais bonita... Enfim, desse autor (Mario Benedetti) eu gosto de A Trégua (que possui duas capas interessantes também).

    Pela editora Alfaguara:
    http://malditovivant.files.wordpress.com/2009/11/cover-145513-600.jpg

    Pela L&PM (a versão que eu tenho):
    http://armonte.files.wordpress.com/2009/05/a-tregua-ii.jpg

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  5. Na minha opinião, com esse seu fetiche pelas capas você deveria se esbaldar nas edições da Cosac - aliás, não só pelas capas!

    Os livros são lindos de cabo a rabo; é o que dá quando uma editora fecha no vermelho ano após ano e não dá a mínima bola pra isso. =3

    Minha dica especial vai pra coleção do Vilas-Matas, que além de linda na prateleira também é literatura de prima-qualitá.

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  6. A Cosac é muito cara, fico só na vontade; tenho pouca coisa deles, e acho que só de cinema. Mas eles têm capas feias também, como a de O amante, da Duras. Pode ser simples e tudo, mas não deixa de ser pobre de uma maneira preguiçosa... Mas todos os livros que tenho deles são, de fato, de excelente nível em tudo: tradução, acabamento etc. Vou atrás de mais coisas tão logo possa (nossa).

    Yasmin, linda essa capa da Alfaguara! A da L&PM achei meio fracote. Nunca li esse autor.

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  7. Com certeza a editora Martin Claret ganha o prêmio "Pior Funcionário".

    E Filipe, uma mistura da capa de A Trégua pela L&PM com um "toque" da Alfaguara, seria a capa de Travessuras da Menina Má. Aposto que lhe interessa mais.

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  8. Os livros da Martin Claret têm todos capas que, como disse um amigo meu, parecem de livros espíritas. Terríveis.

    Travessuras da menina má, Yasmin? O título já me interessou (títulos interessantes, outro papo).

    Suelen, espero que se refira só às capas que critiquei!

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  9. Esse: http://peregrinacultural.files.wordpress.com/2010/01/travessuras.jpg

    É o mais famoso do Mario Vargas Llosa. Comecei a ler um dia numa biblioteca, mas foi apenas para passar o tempo enquanto me deixavam esperando. Enfim, não continuei depois.

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  10. A única coisa que li do Vargas Llosa foi um ensaio sobre Cem anos de solidão (bem bonito, aliás), em espanhol mesmo. Aí que me deu vontade de ler algo dele, vontade que só aumenta vendo as pernas da moça nessa capa que postei.

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