quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Náufrago

Eric Rohmer morreu faz três dias. Eu não quis comentar nada neste blogue porque achei que seria muito cômodo louvar o homem na ocasião de sua morte. Mas o fato é que fiquei chateado com sua morte, não a ponto de chorar (como minha mãe acredita), mas mais por saber que não teremos mais nada inédito dele, que sua obra imortal vai ficar rígida como a coleção de Balzac numa biblioteca.

Não me espanta tanto assim saber que um homem morreu próximo aos noventa anos, mas como podemos nos importar tanto e ser tão influenciados por gente que nem ao menos sabe de nossa existência. Eu posso fechar a cara ao avistar um colega inconveniente na rua ou fugir por uma esquina para não ter de cumprimentar um ex-professor, mas Eric Rohmer estará para sempre comigo, como um dos meus mais distintos heróis. Já passei há muito tempo da fase de me chocar com o inescapável fato de que me importo mais com meus escritores, meus diretores, meus músicos, meus artistas que com meus parentes que não moram comigo, com meus tios, meus primos. Criamos laços que não são de sangue, são muito mais fortes.

Eric Rohmer ainda é pra mim uma das minhas ilhas de refúgio.

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