sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Verdugo

Estou, acredito, no terço final do meu Trabalho de Graduação Interdisciplinar (TGI — nada mais do que o famoso TCC, que na minha faculdade tem esse outro nome). 43 páginas até o momento, sendo o máximo 60; pretendo ir até umas 52, 53 páginas.

Bem, já ouvi muita gente falando que um dos méritos das universidades é incentivar a pesquisa e os trabalhos acadêmicos, e sempre me irrito com essa besteira. A minha faculdade não incentiva porra nenhuma, eu simplesmente estou fazendo o trabalho porque sou obrigado, é uma matéria fixa e se eu não a fizer não posso concluir o curso e me formar.

Durante essas quatro dezenas de páginas eu fiz mais citações do que o Almodóvar faz em seus filmes (e tão mal quanto); não li nenhum dos livros, mas simplesmente fui coletando em alguns certas frases, conceitos e explicações que interessavam ao meu trabalho. Ou seja, engrandecimento intelectual ZERO. Não me orgulho desse sistema de "transporte", mas também não posso me envergonhar: sou um estudante de 22 anos que não tem qualquer opinião sobre essas matérias específicas e que não pode evidentemente se pronunciar com embasamento sobre elas.

Eu não ligo a mínima para o tema do meu trabalho, e não haveria como fazer nada diferente; se eu trocasse de assunto e escolhesse falar de algo que realmente me interessa, não encontraria orientador (pois é obrigatório ser "orientado") e também teria dificuldades com os materiais publicados, as fontes e livros em que procurar ajuda.

No final das contas, é aquela velha história: eles fingem que ensinam e eu finjo que fico satisfeito. Mas como não gosto de mentir finjo muito mal: me enraiveço, tremo de raiva de me saber impotente frente a essa burocracia negligente da minha digníssima e conceituada faculdade. Essa questão do TGI é apenas um dos meus infindáveis e inumeráveis atritos com a instituição de ensino — e, por sinal, nem é dos que mais me enervam.

O que me consola palidamente é meu orgulho bobo de bicho ferido que sabe que vai morrer mas não ruge, para deixar o caçador na tensa espera; não falo nunca sobre o meu curso, não demonstro qualquer inexistente orgulho pela faculdade em que estou e não encho a boca para falar dos benefícios das universidades. Só apresento a carteirinha para obter desconto no cinema.

Não tenho qualquer motivação para fazer publicidade para meu carrasco.

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