domingo, 31 de janeiro de 2010

Poor child

Hoje passei numa livraria e estava tão lotada, mas tão lotada, que fazia o Piscinão de Ramos parecer a Colina da Solidão. Mataram a charada por mim: volta às aulas.

Muito bem. Mas por que deixar para a última hora a compra dos benditos materiais de seus pimpolhos e atravancar todo o caminho dos pobres passantes? Não sei. Mas também não me interessa saber do relapso desses pais, o que achei engraçado é que imaginei, por puro exercício de tédio, o que ocasionaria a concretização de uma vingança mesquinha por mim idealizada e pelo destino executada (ó, poeta).

Pensemos: a criança compra alguns lápis (palavrinha sem plural!) e um apontador. Na aula, amanhã, ele vai apontar um para escrever o ditado da professora — já que ele comprou apenas hoje o material e não teve tempo de fazer outra coisa que não arrumar a mala e cogitar quais fofocas dividirá com os colegas —; vai escrever e quebra a ponta. Vai apontar mais uma vez mas derruba o lápis. Pega-o de volta e aponta repetidas vezes, todas sem sucesso, já que na queda o lápis quebrou o grafite interno. Então a criança percebe que perdeu um baita tempo e o ditado acabou. Ela é a única criança na sala que perdeu o ditado e não teve o ponto. Leva bronca da professora. Seu rendimento cai, ele se desanima, pega recuperação, repete o ano após meses de angústia. Acaba tendo de mudar de escola, vai para uma mais barata, tenta a bolsa e não consegue, não faz amigos, fica retraído, tem depressão, cada vez mais se perde no abismo de seus problemas. Seus pais não sabem o que fazer, tiram-no da escola.

Daí pra frente é basicamente só desgraça, até o suicídio ou ser morto por mendigos num beco.

Às vezes as coisas saem de controle, mas por sorte eu não tenho poderes sobre as vidas alheias (porque a imaginação às vezes é algo destrutivo).

2 comentários:

  1. Bom, deixando de lado a parte desgraçada do seu post, rs... Eu amava comprar material escolar. Mesmo que isso me desse muita dor de cabeça de ansiedade. Eu não sossegava até estar com tudo prontinho pro começo das aulas. Ia todo ano no 'Armarinhos Fernando' com meu pai. Era um inferno lotado de gente, mas escolher o caderno ou as folhas de fichário que eu iria usar, e ainda pagar mais barato por isso, era um grande prazer.

    E lápis é uma desgraça mesmo. Achar um que não quebre a ponta infinitas vezes é mais difícil que acompanhar o ditado da professora.

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  2. Ainda assim, lápis são muito melhores que lapiseiras.

    Eu não gosto nunca de fazer compras, ainda mais em lugares cheios... Por sinal, hoje as ruas estavam um caos, e o metrô lotado! Onde estava essa estudantada que de repente brotou nas calçadas?

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